2012 - claudioloes

Cláudio Loes
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2012

Efemérides
Consumir é sumir. Use o necessário.

A palavra consumo é hoje a definição da maioria das pessoas. Tudo gira em torno do consumo e desta forma as organizações que vão tratar da sustentabilidade também seguem a mesma cartilha. Existe o que procuram chamar de consumo consciente para termos um futuro possível, sustentável, e tudo o mais. Mero continuísmo daquilo que já se mostrou não funcionar. Quando se trata de defender o religar com os ciclos naturais, logo ouço: e como as pessoas vão trabalhar e ganhar dinheiro e viver. Como se isto fosse viver. Podemos fazer umas contas bem rápidas. Se os impostos que pagamos são absurdos, com má distribuição de renda, quem tem a perder se o consumo ficar de lado e passarmos a fazer uso daquilo que é necessário?

O consumo é inconsciente porque existe toda uma propaganda e mídia para determinado produto ou serviço. Com esta febre de compra do automóvel, quantas pessoas estão buscando atender as necessidades de locomoção? No passado comprava-se o voto das pessoas diretamente, hoje se descobriu que é melhor e eficiente com ações que camuflam a verdadeira intenção.

Nas políticas ambientais segue-se o mesmo curso. A erradicação da pobreza em primeiro lugar. Todos devem ter boas condições de vida. Concordo e também busco isso. Mas, será que outras pessoas pensam nisso quando vão ter o próximo filho ou filha? Será que sempre teremos bolsa disso e bolsa daquilo a disposição. Um documentário sobre pássaros pode ensinar muito. Um pássaro sozinho define seu território e os outros vão procurar outros lugares. Se estes não encontrarem ficam sem se acasalar e não tem reprodução. Se os pássaros tivessem nosso raciocínio, dois se juntariam e acabariam com aquele que marcou o território e depois dividiriam entre si. Garantindo dois acasalamentos ao invés de um. Qual seria a qualidade de vida destes pássaros? É só olharmos para nós mesmos e nossa sociedade.

Quando consumimos, no nosso modelo, que é único na natureza pelo que eu saiba, nós nos apropriamos, sem muitas vezes precisar, ter necessidade e depois descartamos para substituir por outro. O pior é que acabamos nós mesmos dentro do lixão. É difícil aceitar e não acredito que as organizações que defendem o consumo consciente ganhariam verba para suas campanhas se de fato questionassem o próprio consumir. Ou será que só entendemos a palavra consumir?

Nestes dias de feriados de final de ano é bom porque dá para ler bastante, ver documentários e pensar um pouco mais a respeito para poder ser um pouco melhor e quem sabe viver um pouco melhor. Uma andorinha não faz verão e se ela vier no início do inverno por engano de alguma propaganda consumista perdida por aí poderá morrer. Podemos aprender com a natureza, nos religar com os ciclos naturais e fazer uso do que é necessário sem vaidades ou avareza.



Dilema atual e futuro

O nosso Código Florestal, novo, revisado, votado, emendado, já muito não poderá fazer para continuarmos cantando nosso Hino Nacional, e com mais vigor que “Nossos bosques tem mais vida”. Isto porque algo muito simples para colocar no papel não faz sentido na prática. O tamanho da área da propriedade é que irá definir quanto deverá ser preservado. Uma insensatez sem limites. Porque o mesmo rio, com a mesma largura tem tratamento diferenciado com base neste parâmetro do tamanho da propriedade? A natureza é que nos deu condições de existência e cada vez mais nós estamos sobrepondo nossa burrice racional, pensamos que com números e leis tudo fica resolvido.

Aqui em Francisco Beltrão a notícia nos jornais era de que com alta dos preços a previsão pela compra das sementes é ocupar e plantar tudo o que for possível. Até fundo de vale irá entrar nessa. Será que já não bastam as perdas de safra que aconteceram no passado? Cada ano tem perda pela estiagem e a terra vai ficando desertificada. Esta, com certeza, irá tirar a vida. Ou será este o fim de um experimento que não deu certo.

Ou será que só sabemos usar e depois quando não conseguimos produzir mais ou não rende quanto queríamos vamos para outras terras. Aqui é fácil perceber este movimento. Muitos têm parentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de onde vieram ao mesmo tempo em que já começam a ter parentes que estão no Mato Grosso e Rondônia e pensam ir para lá também. Por enquanto terra ainda existe para explorar. E quando não tiver mais?

Podemos ser mais inteligentes. Podemos nos religar com os ciclos naturais, encontrar nossa janela de oportunidade e possibilidade. Usar a razão com inteligência. Cobrar sobre a água e outros recursos naturais também não fará diferença. É necessário mudar, mudar e mudar de atitude. Ninguém é imortal. Precisamos deixar algo que possa ser lembrado, como bom, de valor e que se perpetue com as gerações futuras. (19/9/2012)


Precisamos de maior participação cultural.

Ontem fui à mesa redonda promovida pelo SESC de Francisco Beltrão – PR, em que estavam presentes a escritora Márcia Tiburi e o escritor Carlos Herculano Lopes. Uma ocasião ímpar poder estar em contato com o escritor(a), dialogar, sentir e apaixonar-se cada vez mais pela leitura e pela escrita.

Ficou evidente a pouca participação e os esforços realizados pelo SESC para convidar as pessoas. Antes do evento, conversando com a Márcia percebe-se que existem situações as mais diversas com mais e menos público. O analfabetismo funcional contribui também para o pouco interesse pela leitura, mas temos que reconhecer que existem outras questões que vão se somando.

Se a entidade promotora não tem um público próprio para participar, as outras contribuem pouco para o sucesso de um evento, mesmo sendo cultural. Existe uma competição predatória velada, onde o sucesso não é visto como alavanca para outros. E assim ficamos com oportunidades perdidas por falta de divulgação e empenho.

Outro ponto é a falta de conhecimento quanto ao visitante. No meu caso conheço a Márcia e sou leitor de seus textos filosóficos. Não conhecia o Herculano e devo dizer que foi muito bom o encontro com ele. Um escritor mineiro, em prosa e verso, com causos que apaixonam e convidam a conhecer sua obra.

Ainda bem que o Herculano trouxe seus livros, porque a livraria que estava no SESC simplesmente não tinha nenhum livro da Márcia. Como vamos incentivar o leitor se a própria livraria não tem interesse? Ou será que só oferecem literatura maquiada e sem valor?

Ainda bem, a Márcia e o Herculano passaram pela biblioteca do SESC e teceram elogios. A Márcia um frequentadora de bibliotecas, mostrou que não é uma questão financeira e que existem hoje muitas oportunidades e bibliotecas muito boas. Posso até pensar numa deturpação e entender que outros adquirem livros que ficam bonitos na estante e não tocam a fundo porque não serão lidos.

Precisamos de mais cultura e estratégias para sua ampliação. Algumas sugestões são possíveis. Antes da vinda do escritor, usar as outras mídias para dar conhecimento ao público do escritor. Temos programas de entrevistas locais, ou será que não existe interesse pelo forasteiro que vem de fora e trás novas ideias e visões de mundo? Criar condições de neutralidade nas promoções culturais, mediante um conselho por exemplo. Isto evitaria aquele problema do não vou porque não é do meu grupo, instituição ou outro. Melhorar a divulgação com antecedência e de formas variadas. Hoje temos as rádios que tem boa penetração junto ao público, as redes sociais e outros.

Se for um problema de convites e espaço, estes poderiam ser pensados em forma de promoções. Se a rádio faz sorteio de livros, porque não doar um exemplar do escritor que virá nos visitar para ganhar espaço de divulgação. Com convites é a mesma situação.

Bom, espero estar mais atento e quem sabe poder promover uma destas sugestões dentro do meu alcance. A cultura, a leitura em particular é a possibilidade de expandir horizontes, testemunhar, sentir, viajar para nosso interior e sermos aquilo que somos. (12/9/2012)





Executivo e Legislativo.

Em artigo recente na mídia o proponente da lei municipal de cisternas depois de alguns anos ocupou o cargo executivo de secretário de Meio Ambiente e não tinha referência de melhoria na aplicabilidade da mesma. Esta chance de ser legislador e depois executor contribui ou não para uma sociedade melhor e por consequência em favor de nossa existência.

Que me permitam esta análise, mas a possibilidade de poder aplicar aquilo que se imaginou é rara. Aqui ou ali alguém pode afirmar que seria um caso de pressão exacerbada. Acredito que não, porque se supõe que o legislativo municipal, após análise, parecer de comissões e outros votou e o resultado mostrou o valor da lei. O executivo que sancionou a lei na época, reconhecendo seu valor. Ou será que não?

Esta lei das cisternas é interessante para nosso município tendo em vista o problema das enchentes e fazendo pequenos cálculos dá para perceber as vantagens imediatas. Será que queremos ter estas vantagens ou é melhor ser aclamado quando da ajuda aos que perdem tudo por estarem em áreas de risco?

Assim, de um lado parece que legislar para alguns é um mero preencher o tempo e espaços. Participe das sessões da Câmara de Vereadores e saberá do que estamos falando. Existem as pessoas sérias, mas grande parte está simplesmente numa disputa de saber quem tem poder pelo simples consideração do poder em si.

Nosso sistema de governo deixa a desejar com esferas que simplesmente disputam hoje o mesmo que em outras épocas históricas. Dar poder a alguém é uma maneira de conhecer seus verdadeiros anseios. Tudo gira em torno de um ditado “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Poderia ser ligeiramente modificado para obedece quem precisa.

Refletindo sobre esta situação particular existe outro entrave, a função exercida. É como se enquanto legislador a preocupação estaria em atender a anseios e depois na função executiva seriam atendidos pedidos e necessidades imediatas. O legislador anseia por uma vida melhor através da lei sem considerar o futuro de sua aplicação. Esquece que existem custos econômicos que infelizmente são considerados porque não temos outra maneira de valorar ações em favor de uma vida melhor e de nossa existência. Assim, a legislação carece de visão ampliada que deveria ser revista para evitar o que temos em nossa cultura, a lei que vira letra morta.

Neste período de eleições municipais é um desastre ouvir as propostas de alguns candidatos que não sabem o que é o legislativo e o executivo. Fazem a maior confusão e saem prometendo de tudo para sair do “obedece quem tem juízo” para o “manda quem pode”. Ou será que estamos tendo mostras do declínio, do aumento da entropia do nosso sistema de representação, com suas coligações e tantos outros meandros, possivelmente desconhecidos da maioria da população? (29/8/12)



Continuamos os mesmos.

Continuamos os mesmos e teimamos em não mudar mesmo sabendo que é necessário e inevitavelmente irá acontecer. Estava fazendo compras no supermercado e examinando cada ovo individualmente. Uma pessoa parou perto, olhou e disse: como homem tem tempo para perder. Respondi: ainda bem que tem tempo para perder porque daqui a pouco pode não existir mais tempo para ninguém. Penso que exigi demais e a conversa parou aí.

Mas, tudo é bom motivo para olhar melhor a volta. Talvez como Fernando Pessoa, que se via como um girassol, quando caminhava olhava para os lados e de vez em quando para trás em "O guardador de rebanhos". Parei para observar as pessoas escolhendo frutos em sua pressa sem sentido. Como próximo tinha destes produtos envasados em caixas a observação teimou em não ver. Escolhem-se as laranjas, tangerinas, limões, bananas assim como caixas. Pega e vai jogando no saquinho, não importava se estivessem bons ou não.

Estamos industrializados e queremos continuar assim. Possivelmente nossos relacionamentos já estejam indo pelo mesmo caminho. Vamos adicionando amigos em nossas redes sociais virtuais e quando encontramos na rua nem reconhecemos ou cumprimentamos. É uma pena, devíamos estar mais junto. Ter evoluído e saber que o importante são os amigos, a convivência pacífica entre todos, a vida em sociedade com contatos próximos, amáveis e calorosos. Epicuro já apontou lá atrás que o importante são os amigos.

Espero poder continuar tendo tempo para perder e escolher os ovos individualmente. Observando, tocando, ligando com tudo e com todos. Aquela fruta que ali no balcão se apresenta é parte e será todo conosco, se tivermos o encanto e abertura para sentir os dias que a antecederam e está ali. Poderia ser qualquer outra e agora é especial. Talvez a perca porque uma mão apressada poderá pegar antes e ela chorará de saudades deste momento no próximo suco.

Continuo o mesmo, sonhador e feliz.

Fora do contexto.

Este ano as efemérides demoraram mais para sair do papel para o computador. Mas, elas também não virão e o motivo é a falta de tempo para colocar mais textos no ar.

Para um assunto merecer destaque ele precisa estar no contexto de nossas vidas, de nosso aprendizado. Isto porque de nada adianta perder a vida com assuntos que não dizem respeito, que só mantém a vida de outros e não do todo. Agora a pouco recebi um convite para um evento onde o tema será "Capital social como base para o desenvolvimento do capital econômico". Este é o máximo do reducionismo de nossos tempos. A natureza nesta conta nem entra, está ali para nos servir e...

Aqui próximo de Francisco Beltrão, será instalada uma fábrica de sacolas biodegradáveis a partir do milho. Segue texto do Jornal de Beltrão, versão impressa, de 10.3.2012, "O diretor-presidente Luiz Fernando Guerra salientou que as sacolas de produzidas no Brasil são na maioria a base de petróleo e permanecem muitos anos sem se decomporem. "As nossas sacolas se decompõe em 150 dias e serão feitas a partir de milho, que é infinito e produzido na nossa região. Estamos muito otimistas e esperamos colocar em prática o projeto o mais rápido possível", frizou. Se ele puder explicar como o milho é infinito então os problemas de fome no mundo estarão resolvidos.

Portanto, se algo estiver por demais mono, e aqui não é para designar alguma espécie de macaco. E sim, monocultural, monocultura agrícola, monoteismo, monoidéia, monosexual, mono isso e mono
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