2020 - claudioloes

Cláudio Loes
Ir para o conteúdo

2020

Efemérides
Efemérides,   conforme o Dicionário Houaiss "livro, agenda em que se relacionam os acontecimentos de cada dia; diário"
e o Dicionário Aurélio, um "diário, livro ou agenda em que se registram fatos de cada dia".
Para replicar, parte ou todo desta página e de todo o site é preciso consentimento, autorização, permissão por escrito do autor.
A cada ano. 1/1/2021
A cada ano nos enchemos de esperança. Muitos fazem planos e promessas, e outros tantos brindam, enquanto outros choram. Afinal, o dia segue seu curso, e não temos uma marca, uma ligação profunda com o acontecimento. Temos a passagem de um ano com base em um calendário adotado em 1582, o calendário gregoriano.
Pessoalmente, eu gostaria de poder comemorar mais os equinócios e solstícios, relacionados com a posição do sol em relação à Terra, por serem marcas iguais para todos nós. Isso, sem esquecer as fases da lua, por serem, também,  marcas iguais para todos nós, mas isso tudo foi posto de lado e perdemos nossa conexão com a natureza, mesmo sendo ela a única que nos dá a vida a cada dia.
Peço que não entenda isso como um sermão ambientalista, porque essa não é a intenção.
A intenção e o desejo é que todos nós possamos neste ano de 2021 e nos outros que se seguirão, ficar todos os dias mais atentos e seduzidos por um maior relacionamento com a natureza, com seus ciclos e com todas as pessoas. Ter somente aquilo que nos é essencial e reservar mais tempo nos conhecermos mais e melhor.
Acordar todos os dias e buscar uma compreensão mais ampla, na busca da verdade e da essência de nossa humanidade.

Ando bem desmotivada... 13/12/202
Se eu seguisse pela tua conta eu teria três vezes, mais ou menos, a tua desmotivação. Portanto, levanta a cabeça, torce o nariz, mostra a língua, dá um sorriso largo e seguir em frente. A vida é feita de alto e baixos e isso não vai mudar. O importante é saber surfar nos ciclos. Tudo o que está lá em cima cai e tudo o que cai brota para crescer de novo. Eu não te conheço pessoalmente, mas penso que tem um potencial escondido aí que só precisa ser direcionado para aquilo que tem valor. Comece a ficar mais atenta com isso e ganhará muito. Aquilo que não acrescenta leva para baixo, desanima e a morte esperta fica torcendo por isso. Não vai desaparecer o desânimo, mas o importante é saber que ele não dura para sempre.

Religião, crenças e mudança. 3/12/2020

A categoria religião, associada a crenças e tantas outras cristalizações de pensamento que nem se quer ousam questionar o próprio pensar, mantenho distância. Penso que é como uma fogueira, se você quer fogo mais brando coloque menos lenha, se quiser que se apague e não cause incêndio não coloque mais lenha nenhuma.
A Europa não nasceu culta, foram séculos e séculos de guerras e de aprendizado. Isto vale para nossa espécie humana como a conhecemos. Se olharmos hoje em dia continua no mesmo. As pessoas precisam de crenças, de certezas, para continuarem bem, felizes supostamente, na acomodação do dia a dia. O gasto de energia é menor.
Parar, pensar, escrever, trocar ideias, corrigir, voltar atrás para dar um salto maior, tudo isso consome energia, exige esforço. Na minha acomodação, tenho uma única certeza, a da mudança constante. Ela acontece o tempo todo, alguns ciclos são mais curtos e outros mais longos. O da religião e das crenças é longuíssimo.
Entendo hoje sem ficar bravo e nem com raiva de que para algumas pessoas vai continuar sendo assim. A mudança leva tempo e nem sempre vejo logo acontecer o que vislumbro.


Classificação. 22/11/2020

Entrei no museu e vi muitas gavetas com coleções as mais diversas. Todas muito bem classificadas para conhecer aquilo que talvez nunca viesse a ver um dia. Eram conchas, borboletas, cristais. Por favor, não me peçam a classificação científica porque talvez tenha guardado uma ou outra imagem da época, feito algumas anotações para o relatório e só.
Lembro bem do dia em que entrei no museu do colégio pela primeira vez. Ficava no sótão, era muito bem organizado e não tinha nenhum odor de coisa morta. Era um lugar onde se podia viajar no tempo. As coleções de selos eram fantásticas e ficava imaginando sobre as cartas que iam e vinham, trazendo as mais diversas notícias, mensagens, discussões familiares e tantas outras. Sim, aquelas de uma vida normal que não tinha a velocidade que temos hoje.
Fiquei agora na dúvida porque me lembrei do museu. A sim, não se decepcione. É por causa das classificações que nós humanos damos a nós mesmos. Colocamos todos em divisórias de gavetas de museu. E deixamos lá pra sempre. Tudo bem saber como era neste ou naquele tempo. Temos hoje o recurso da fotografia.
No entanto, nós classificamos para dizer quem é mais ou menos. O museu do meu colégio não tinha nada disso e penso que hoje, uns 50 anos depois, é que entendo realmente qual foi o efeito daquele museu que perdurou, nesse texto, nesse domingo à noite.
A classificação estava lá não para segregar, para apartar, ou deixar de lado. Ela estava lá para mostrar a diversidade e de como ela é importante.
Saber que sou diferente de qualquer outro humano não deve servir para criar uma escala de valores. Deve ser para apreciar nossas diferenças, aquilo que podemos trocar, conversar e dialogar para viver.
Como tem sido triste encontrar todos aqueles que ficaram presos  nas gavetas do museu. Uns sendo arrogantes para dizer o quanto são mais e outros se lamuriando sobre sua desgraça na vida.
Nada disso, quando puder classifique, aprenda a organizar, e tudo para saber que a diversidade é melhor e que a classificação é só uma ferramenta para saber se somos diversos o suficiente.
Comecei a imaginar como seria uma gaveta só com humanos iguais a mim. Fiquei entediado e não aguentaria nem um momento ter outro igual a mim como companhia. E você, já pensou nisso? Classificar é bom, mas viver com diversidade em todo e qualquer lugar é muito melhor.


SER "HOMEM", NUMA SOCIEDADE MACHISTA. 20/11/2020
Crônica extraída pela escritora Cleusa Piovesan de uma troca de mensagens com Cláudio Loes

Sabe, estava pensando em como estou me sentindo depreciado como homem. Dei-me conta disso, hoje, indo ao dentista.
Estava parado no semáforo e uma mulher linda, de short, blusa e tênis atravessou a rua. Aí me dei conta de que estava com vergonha de ser homem, porque se ficasse olhando e admirando aquela beleza, com sua estética, seus passos leves, sem pressa, de bem com a vida, poderia ser confundido com um delinquente, ignorante e todos os adjetivos possíveis. Aquele que daria um jeito para, de uma maneira ou de outra, querer ter aquele alvo de admiração para si.
Fiquei bem triste e, quando o semáforo abriu, segui em frente, mas ficou esse amargor no coração e no sentimento. E penso que viver num sistema que desconfia o tempo todo não é um bom lugar para se viver ou estar.
E infelizmente ou felizmente me dei bem conta disso, hoje, quando as manchetes de jornais expõem atitudes de "homens" que utrapasaram o limite do racional e olham para uma mulher como um objeto de consumo. Talvez,  por essas situações, venho gostando de estar tão somente na minha melhor companhia, eu.
Pelo exposto, penso que dá para entender porque é difícil fluir algo em meio a esta situação toda, em que o olhar da sociedade condena a todos os homens, pela atitude de alguns.
E o mais alarmante, o filme das situações passadas reprisa tão rápido, mostrando como isso aconteceu, esse "pagar pelas atitudes dos outros" e achar que era só azar na vida sempre.
Por esse motivo, provavelmente, o silêncio vai aumentar, porque não existe solução em tão curto tempo que sobra para viver. Ser mal interpretado o tempo todo custou muito na minha vida.
Passei a vida à toa porque tinha uma trave nos olhos, uma percepção errônea da realidade. Isso, num primeiro, momento me deixa cabisbundo, decaído, com vontade de ficar sentado e parado sem nada fazer. Pode parecer enfadonho, mas sei que é necessário viver para não esquecer. Nada de fugir, pedir desculpas, porque nada teria para fazer com elas.
Penso que preciso ficar ausente de mim para poder olhar, justamente para mim.
Como será? Não sei dizer e também não tenho nenhuma preocupação em dizer como ficará.
O meu maior erro de visão foi pensar que sendo "homem", poderia ser diferente continuando a ser homem. Uma amiga, talvez, tenha sido a primeira que me deu uma pista quando disse que eu era um valete. Como nas cartas, o valete fica abaixo da dama e do rei, da mulher e do homem.
Percebeu o meu erro? Por isso que os homossexuais ficavam incomodando e as mulheres sempre caindo fora. As mulheres porque eu poderia um dia mostrar as garras e de querer consumi-las; os homossexuais, porque não me veem na condição de homem. Difícil seguir...
Aí minha amiga diz que "nunca saberemos qual é a visão certa das coisas. Cada qual forma as suas por vivências, experiências, observações..." Vejo razão nisso, talvez ela não esteja fora de foco.
Quando me comparei ao valete, ela me apontou outra perspectiva, não a do baralho, mas a do cavalheiro galanteador, que sabe respeitar uma mulher. E nem por isso vai perder sua masculinidade. A parte de se impor como "macho dominante" pertence aos que perderam a racionalidade.
Acho que ela tem razão quando diz que estou muito recluso. Isso não está me fazendo bem. Quando essa pressão social passar, essa visão de que todo homem, em seu poder fálico, seja um possível abusador... talvez eu possa andar nas ruas e olhar para uma mulher sem carregar a "culpa" de ser homem em uma sociedade machista, e me sentir melhor comigo mesmo.

Nada de expectativa. 16/11/2020

Não poderia perder por nada esta piada.
Todos estavam em silêncio. A administração do cemitério até queria contratar todos para melhorar o ambiente por lá. Não deu muito certo. Aí, ficou tudo como estava. Cada um em seu canto, remoendo num tempo que, mesmo sendo final de ano, parece não animar.
Os enfeites de Natal têm tom de "sem vontade" e brilham pouco na janela de um ou de outro, que se esqueceu de tirar no final ano passado.
Confesso que também gostaria de desaparecer, ficar fechado no silêncio como todos, deixando passar mais alguns segundos da morte.
O trabalho tem sido enfadonho, sem direção, se sobe ou se cai de vez. Um marasmo que corrói aos poucos. Uma ferrugem que enferruja os neurônios, mas... e sempre tem aquele "mas" especial.
Eis que surge a imperatriz e dá uma chamada, pergunta onde está o próximo desafio. Parece não surtir efeito, pela resposta.
Um desafio que era esperado a cada semana, também não escapou do marasmo da multidão. Nunca se deve ir contra a tendência, porque sempre se sai machucado. Se alguém não gosta de você é perda de tempo pensar que vai ser diferente.
Então, a desafiante se apresenta e manda um arquivo. Ops! Fiquei animado, uma resposta tão rápida deve ter algo para dar ânimo, pular da cadeira, tirar as ideias da cachola e escrever.
Quando começo a ler, era o resultado apresentado antes do desafio. Fiquei lendo aquele poema maravilhoso e pensando que a tarde não poderia ter ficado melhor.
É como se ao invés de dar o desafio de colher laranjas fossem dadas as laranjas de presente.
Preciso agradecer e dizer que foi muito mais divertido do que um desafio em si.
Agora, tudo poderia ser diferente, passou uma ideia louca de raspão.
E se parássemos de fazer desafios e fizéssemos o contrário? Quem ao ler esse texto besta saberia qual foi o motivo de sua origem?
Sairiam outros tantos assim? Direto e sem parada, porque a história foi boa e poderia ser melhorada.
Isso eu já não sei, mas sei que me senti muito bem lendo um poema inesperado. E fica o aprendizado que veio pelo poema. Nada de expectativa, dói menos. E vou acrescentar, faça tão bem, e tão singularmente, para que o outro se pergunte: por que nunca pensei que ele ou ela poderia ter feito algo tão bem?

O medo e a figura de linguagem. 12/11/2020

Uma “fuga”, uma estratégia aplicada para conseguir determinado efeito no texto. É por aí que vou começar, com uma das muitas definições para a figura de linguagem. Digamos a título de exemplo: “És a estrela dos meus dias”. A pessoa não é fisicamente uma “estrela” lá do céu, mas com a figura quero, por exemplo, ressaltar toda sua beleza se for este o contexto, ou também poderia indicar que já está morta e só existe um brilho do que foi um dia. As duas colocações vão depender de todo um contexto. Ele é que vai dar o verdadeiro sentido que a figura de linguagem queria alcançar.
Simples assim, mas tem algo mais interessante. Digamos que eu queira encontrar expressões para falar sobre o medo. Não quero usar os sinônimos: acovardamento, covardia, desânimo, fraqueza, pavor, receio, temor, etc.
Quero para o medo expressões figurativas, para chamar mais a atenção, provocar impacto. Aí poderia usar: “pelar-se de medo”, “borrar as calças”, “ter medo da própria sombra”, “dar frio na espinha”, “deixar de cabelo em pé”, “com o cu na mão”, “tremer nas bases”, “cair para trás”, “ficar de cabelos brancos”, etc.
Podemos notar que as figuras de linguagem são mais impactantes e dizem muito da intenção pelo seu uso. Como aqui a intenção é ficar restrito ao medo, vamos seguir em frente com ele. Quem não sente medo? Todos sentem medo e não gostamos de dizer isso aos outros. É um sinal de fraqueza.
Vamos então analisar dois discursos numa situação em que todo um grupo de pessoas passa por dificuldades as mais variadas, doenças, mortes e problemas sem fim. A fala é para encorajar a viver, seguir em frente fazendo cada um o seu melhor.
O primeiro que vai falar diz: “sinto muito dizer, mas todos vocês estão “com o cu na mão” e por isso vivemos tão mal, precisamos mudar tudo isso já”.
O segundo diz: “pessoal, tenho que dizer que me pelei de medo quando chamaram para falar, quase borrei as calças, e agora aqui estou tremendo nas bases, mas acredito que se todos admitirmos que temos medo como eu admito, poderemos encontrar nossa coragem, nossa força, para reerguer tudo isso e sermos melhores lá na frente”.
O primeiro talvez possa “provocar os brios”, usei a figura de linguagem entre aspas,  mas logo depois nada acontece, porque não existiu empatia. Vamos lembrar a situação, um lugar com um grupo de pessoas. Então eles estão na mesma situação. Por que quem faz o discurso acredita que não?
O segundo foi fraco num primeiro momento por admitir seu medo, mas criou empatia e com o tempo talvez outros queiram se juntar a ele para mudar. Podemos dizer que é alguém que não pensa somente em si, porque sabe que depende do todo. Não tem para onde fugir.
A minha intenção não é dar uma resposta pronta. É sim, chamar a atenção. Devemos ficar atentos para as mensagens que recebemos, ouvimos e também para aquelas que nós mesmos proferimos.  Qual o valor delas? Elas acrescentam algo a mais para viver melhor? Elas querem empurrar o medo para debaixo do tapete?

Período eleitoral. 10/11/2020

Somos obrigados a votar a cada dois anos. Este ano são as eleições municipais e com uma grande diferença, temos o Covid que ficará registrado como uma bagunça em todos os sentidos. A pandemia tornou tudo confuso e desconhecido para reaprendermos hábitos de higiene e de convivência em contexto, se não totalmente adverso, mas totalmente diferente.
Contudo, a campanha está aí e vem muitas mensagens. Algumas mensagens de pessoas que não conheço; outras que conheço pouco e aquelas que de fato fizeram algo. Estas últimas são as que mais eu aprecio.
Por que mais aprecio as últimas? Porque elas fizeram algo entre uma campanha e outra, sendo candidatas ou não a algum cargo. Tudo bem, poderia ser só um preparativo. Sabemos que pelo modelo atual a esperteza ainda continua com muitas pessoas sendo candidatas para ajudar alguém que possa de fato se eleger. Isso faz parte do jogo e a possibilidade está na lei.
Que a lei precisaria mudar, todos sabemos, mas quem está no poder com o rabo preso não vai querer que nada mude. Enquanto isso existe a alternância que ainda não é importante porque acaba sendo em favor de determinado setor, família e outros para vantagem própria.
Vou ainda acreditar que é possível fazer algo, mas não acredito nas eleições neste modelo que não é meritocrático.
As eleições se tornaram um circo romano moderno. A arena onde as pessoas vão assistir os contendores se degladiarem e esquecem que o golpe final, o “cortar a cabeça”, será dado contra elas mesmas.

Experimentar. 11/10/2020

Quando mais novo arriscava mais. Era ousado em aventuras sem muito pensar em riscos ou consequências outras. Tudo seguia seu curso sem pensar no amanhã.
Depois vieram as responsabilidades. Era preciso estar preparado, pensar um pouco antes de tudo. Os planejamentos se perderam no tempo e hoje percebo o quanto foram inúteis frente aos ciclos milenares da natureza. Ela segue com ou sem minha presença.
Quando comecei minha família aí complicou bastante. A responsabilidade aumentou, filho pequeno, tudo pensado em outros termos. O eu precisou dar lugar a outros eus. O Eu precisou dar lugar para um nós sonhador, mas realista no dia seguinte, as contas eram sempre pontuais.
A vida seguiu e os resultados apareceram, bateram na porta todos os dias. Alguns foram ótimos, outros um verdadeiro desastre.
E depois de todos esses anos o melhor é escrever para não esquecer. Algo sempre vale a pena, mesmo que só para guardar a imagem de um sonho inacabado que poderá um dia se realizar para felicidade de todos.
Agora que mais velho devo voltar, começar a fazer tudo diferente, ir buscar aquilo que sempre deixei de lado em favor de outros. As recompensas se eu tive ou não, não fará diferença. Quero e acredito que ainda vou deslizar pelas curvas para sentir um frio na barriga. Arrepiar como em noite de lua cheia e uivar lá no alto solitário e feliz. Vou arriscar mais porque já estou no lucro

Trabalho? - 18/9/2020

Trabalho só é bom se for lúdico e aleatório. Deve ter dias de maré baixa, navio parado, sol e praia para recarregar o corpo e a mente. Emoutro terá dias que tem maré alta, quando é hora de levantar âncoras, enfunar as velas e buscar os objetivos traçados.

Memórias - 17/9/2020

Ainda tenho algumas memórias que funcionam, outras espero que apaguem rápido para dar lugar a outras, não por serem boas ou ruins, tristes ou alegres, frias ou quentes, mas somente pelo fato de serem novas. A flor nova no Ipê que hoje vejo é inesquecível, incomparável e por isso sua curta duração é tão apreciada. Daqui alguns dias, só na próxima estação a verei se lá estiver, com menos memória para me encantar novamente, de outro modo, diferente do de hoje.

Por uma visão, um objetivo, um programa. 19/8/2020

Bem, espertos tem o tempo todo. Eu até queria ser assim, talvez vivesse melhor, porque este pessoal sempre se dá bem. Quanto à política fico mais longe ainda, já acho um grande peso ter que viver sob o peso do que chamam de sociedade. É muito cansativo e penso ultimamente que esta nossa organização social não leva para uma evolução.
Vi isso ontem bem claro e soma-se aos exemplos dos últimos tempos. Aqueles que fizeram diferença foram reconhecidos pelos seus feitos em prol de uma sociedade mais sustentável em todos os aspectos (pessoais, econômicos, ambientais e coloque tudo o que quiser na lista), simplesmente desaparecem e suas ideias tem dificuldade para se manter no tempo.
Enquanto que os que se apropriam da produção e riqueza de outros vão para os livros da história e serão lembrados. Você pode dizer, serão lembrados pela desgraça que causaram. Bem, isso não importa, importa é ser lembrado e perpetuar os ideais.
Quando alguém ouve falar de Roma, ele vai lembrar-se dos aquedutos e de outras engenhosidades ou vai lembrar-se de um Nero que pôs fogo em tudo?
Bem, o ideal dele continua, as pessoas nos tempos atuais, hoje, não aceitam o resultado de uma eleição democrática e aí querem por fogo em tudo.
Eu passei uma vez por uma eleição do Clube de Ciências, perdi porque o adversário comprou votos com uma rodada na sorveteria para os alunos. Ambos tínhamos que escrever um programa que seria executado e no estatuto dizia que se em três meses não fossem alcançados 40% dos objetivos toda a chapa vencedora poderia ser deposta e assumiria a segunda colocada. Era um mandato de um ano e eleições eram realizadas no ano anterior. Mas, tinha um detalhe, a segunda colocada assumia depois de uma assembleia para este fim e tinha que cumprir a programação feita pela chapa vencedora.
Deu para entender a diferença? Gostaria de ver isso na sociedade. Você opta pelo programa, pelos objetivos, pelo que se quer alcançar e depois todos vão trabalhar em prol da proposta que venceu. Um sonho meu e não tenho força para levar a este movimento adiante. Porque as pessoas querem discutir só a sobrevivência como desculpa para nada pensar e viver muito bem acomodadas em sua mesmice estúpida. Hoje deu vontade para deixar os neurônios seguirem sem rumo, mas eles conhecem tanto este caminho que de vez em quando me fazem pensar e passar por ele. Será que ainda verei um dia esta possibilidade na prática novamente. Saudades do meu tempo de Científico com Clube de Ciências, Museu, Academia de Oratória Mont’Alverne e tantos outros.

Esperança não. 4/8/2020
 
 
Fico sempre pensando que as pessoas gostam de estar tristes por negarem que tudo tem fim um dia. Dizem que sou bem rude neste quesito e também não penso mais em tentar me explicar, porque aquilo que precisa ser explicado não tem valor. Claro que saudades pelas perdas existem e não tem como tirar. Mas, parte da tristeza vem de esperanças que nos ensinaram a termos. Isto é, eu pessoalmente não acredito em esperanças. Porque quem espera fica a mercê da benevolência de outrem ou espera (esperança) de que alguém ceda algo. Aprendi isso com uns 19 anos com uma freira idosa de uns 50 anos na época. Sempre sonhe e quando puder realizar coisas boas e divertidas nunca deixe de fazer. Assim, quando os tempos forem difíceis sempre terá coisas boas para relembrar e principalmente saber que pode sonhar com outras tantas que daqui a pouco fará de novo. E assim, vamos seguindo com a vida. Espero que todos melhorem e passem bem. Isto não quer dizer sem nenhum problema, eles fazem parte dos nossos ciclos, da nossa existência.

Desconstruir é o início. 29/7/2020

Existe uma grande vantagem em não ter compromisso com outras mentes porque assim é possível explorar outros mundos, outras possibilidades e outras oportunidades na minha mente infinita.
Assisti  ontem uma palestra proferida pelo professor Paulo Venturelli no Centro de Letras do Paraná sobre João Gilberto Noll e o romance Hotel Atlântico. Pelo passar do tempo acabei não lendo nada antes porque não conhecia o palestrante e nem o autor. E agora fico feliz que não tenho feito, porque seria uma preparação a partir das minhas lentes. Anotei algumas expressões usadas pelo Venturelli que me instigaram a querer ler este autor.
“Seus personagens são tomados pela insuficiência real... deixamos de ser homo ludes, homo faber e homo loquens ... existe a desconstrução no autor como uma crítica ao tudo pronto e certo... nos tornamos pessoas que consomem e o fazer deixou de existir...o ser humano deveria fazer as coisas brincando, algo agradável...trabalha o dia todo e a noite cai cansado em frente a televisão...livros e filmes baseados em obras de Noll...livros para quem quer começar a ler Noll: O cego e a dançarina (ainda não definida sua linha de escritor, tem indícios) e depois O quieto animal da esquina...para ler Noll é preciso que o autor também mude seu modo de leitura, não é um livro para ler a noite antes de dormir, terá pesadelos nos sonhos...tragédias e desconstruções, Adão e Eva, Elíada e Odisséia...Filmes baseados em obras de Noll: Harmada, Hotel Atlântico e Alguma coisa urgentemente...Livro A céu aberto...”
São anotações para ajudar a voltar e lembrar.
Pessoalmente fiquei com alguma inquietação lendo um pouco sobre a morte solitária do autor e um artigo de opinião de Fabrício Carpinejar:  “João Gilberto Noll foi assassinado”. Carpinejar apontou que a condenação ao isolamento de um dos maiores mitos da literatura foi a indiferença da sociedade, do poder público e das instituições. Lendo depois a biografia do autor com mais detalhes deu para compreender este ponto de vista.
Uma ideia que explorei nesta minha mente infinita é de que o autor, Noll, talvez por isso eu queira ler sua obra, foi o mais honesto e fiel a sua própria escrita. Sigo aqui baseado no que ouvi  na palestra. Se a proposta foi a desconstrução e que tudo se decompõe, a morte vem para tudo e todos, e ela é uma experiência de solidão no mundo. O próprio final não podia ser diferente. Não estou querendo justificar nem criticar ninguém pelo fato ocorrido e a situação trágica de não reconhecimento. É como se a própria vida do autor fosse se desenvolvendo assim como sua obra. Um assumir em carne e osso suas crenças. As obras são pistas desta jornada. É uma ideia e algo que estou pensando em ter como meta. Ler seus livros na mesma sequência em que foram escritos.
Mais uma questão e vou escrever aqui sem voltar para correção. Prefiro assim, já que sou meu único leitor conhecido também. O autor propôs a desconstrução. Quem vai  construir se devemos ser homo ludens e homo faber. Cada um individualmente? O estado? As minorias? Um grande problema porque se entendi não existe um apontar algo. Cada um vai descobrir o seu ser e como este se relacionará com os outros? Existe alguma possibilidade além da escravidão capitalista? Enfim, muitas perguntas sem resposta e queria me ater a uma que tenho atenção pessoal.
Talvez uma crítica bem ácida quando se fala da escravidão capitalista. Quero sempre lembrar que vejo muitas pessoas postando sobre suas visitas a pirâmides em todo o mundo, muralhas enormes, grandes estradas, obras suntuosas e tudo o que se puder imaginar de grande obras que foram feitas com muito, mas muito trabalho escravo de quem dominava nas sociedades de cada época. É algo que até queria procurar se existe algum estudo mais específico sobre as construções humanas com base na escravidão. É algo que parece estar enraizado em nossa espécie, queremos sempre mais sem medida nenhuma. O céu deixa de ser o limite.
Mas, tudo tem um mas. Esta base de escravidão para ter mão de obra disponível precisava de mais humanos. Usamos até a desculpa de que alguma divindade assim o quis para dominar os outros. A população foi aumentando e a ida para boa pare que tem recursos foi sendo expandida, vivemos muito mais anos. Na Idade Média a expectativa de vida era muito baixa, se não estou enganado algo em torno de 35 anos, não vou pesquisar agora. E aqui estou com 60 anos de idade e uma população global já com mais de 7 bilhões de habitantes. Deixamos de entender limites e somos num todo como as crianças sem limites de nossos dias. Quando elas querem algo elas simplesmente fazem birra e esperneiam e os pais despreparados e com sentimento de culpa que lhes foi passado atendem a todos os desejos. Ótimo não acham?
Foi um pequeno sarcasmo. De nada adiantou pessoas que fizeram sua desconstrução e entenderam que era preciso construir em outras bases. Estas pessoas inclusive conseguem provar que é possível viver em outras bases sendo homo ludens, homo faber e homo loquens. E evoluir como espécie humana. Porém, por ser um grupo pequeno não consegue fazer girar esta outra roda porque está tudo as avessas. Todos são ensinados a querer e querer sempre mais. O céu deixou de ser o limite aqui também.
Aí entra nossa grande mãe que com seu zelo de milhões de anos vem ensinar a lição que já repetiu tantas e tantas vezes. Veio dizer que uma vez que não compreendemos nada ela fez doer no lugar que mais insistimos em dar valor e pelo qual resolvemos nossos problemas, o bolso. Sim, desta vez ela não foi pela sua solução de extinção. Isto já tinha acontecido com dinossauros e digamos que não foi bem uma solução. Ela para se redimir deu chance de nova evolução e aqui estamos nós, livres, leves e soltas crianças birrentas.
Aí só teve um jeito. Fazer doer no bolso. As mortes são trágicas quando acontecem e as pessoas sentem isso profundamente. Mas, as cicatrizes vão se fechando com o tempo, sendo curadas porque temos uma grande capacidade de adaptação. Porém, o bolso não. Todo o remanejamento econômico e financeiro que estamos tendo em escala global nunca aconteceu antes. E desta vez estão todos no mesmo barco, não tem ninguém para salvar a todos e ser o próximo grande mandante global. Ao menos por enquanto, porque está história também já se repetiu.
Uma sociedade suplanta outra pelas armas, pelas doenças e pela tecnologia. Então quem tiver no conjunto mais armas, mais resistência a doenças (corrida pela busca da vacina contra o vírus) e tecnologia suplanta outras. Podemos continuar insanos e seguir assim. No entanto, se não aprendermos nada com esta pandemia, daqui a alguns anos o mesmo se repetirá. Porque esquecemos que além de termos um fim certo que é a nossa morte, a natureza não tem lugar para tanta gente. Se quisermos ter ciclos de vida mais longos precisamos ter mais equilíbrio. Podemos viver muito mais anos, mas não sendo tantos. E se alguém ainda acreditar que não é assim, que comece a questionar e será um belo início de desconstrução. Os pontos de interrogação ainda não foram exterminados e podemos fazer bom uso deles.
E para não morrer solitário nestas linhas que atravessaram a mente como punhais afiados tenho para mim que o início é preciso. Questionar é a partida? Isso já pratico há muito e muito tempo. Com um pouco de atraso e nem em tudo ainda, reconheço, mas faço. E também sei que não terei soluções prontas para minhas perguntas, terei que construir respostas. Entenda bem, construir e não encontrar respostas. Sim, construir respostas com outras perguntas, não só minhas, mas de todos aqueles que entendem a evolução humana ser necessária com base no diálogo dinâmico e constante entre todos.
Para os que não acreditam, resta continuarem sendo escravos de quem os queira como tal. Porque ser escravo de algo ou alguém é uma opção pessoal. Basta ver como muitos, muitos mesmo, simplesmente trocam de senhorio e se dizem livres.

Viramos uma variável. 27/7/2020

A ignorância chega ao seu ponto máximo quando quer ditar o que os outros devem ser. Como se isso fosse possível. Se bem que pela grande ignorância e medo da maioria, torna-se muito fácil manipular o outro para objetivos outros que nem precisam ser claros. A sutileza é tal que em nome da rapidez e do aceite de todos em vez que escrever queridos e queridas usa-se queridxs. Tudo bem, estamos em tempos modernos e as mudanças devem vir e trazer benefícios para todos. Mas, fico me perguntando: hoje todos entendem, e amanhã? Sim, daqui um tempo vai ser encontrada uma pronúncia para “queridxs” e lá se foi a diversidade, que já era ruim por serem só duas opções, para vir a ser de opção nenhuma. Fico pensando se sou só eu que vejo estas coisas acontecerem com tal delicadeza e acertividade de manipulação. Começa devagar e depois ninguém mais sabe por que faz isso ou aquilo.
Percebo que existe um peso sendo imposto aos poucos. A sociedade como um todo impõe regras ao indivíduo que nela queira viver e estar. Isto é, as leis e regras se aplicam para todos, ditando o que deva ser uma convivência razoável e desde que um não acabe com o outro. Isto de tempos em tempos muda e aparecem os clãs. As mais variadas denominações, mas todos querem seu poder para ditar o que deve ser ou não. É como se deixássemos de ser humanos, porque alguns valem mais e outros menos. Evoluímos tecnologicamente e ainda nos comportamos como bandos rivais. Disto já escrevi muito e nem vou perder mais tempo. A conclusão é que não nos vemos como espécie.
Voltando ao exemplo. Se eu não escrever queridxs (para me referir aos queridos e queridas) eu sou do grupo contrário ao daqueles que querem a escrita “queridxs”. E isso não preocupa porque vou usar as duas palavras quando for conveniente a partir de uma pessoa bem educada e respeitosa que sou. Tudo o mais para diminuir o uso das palavras, símbolos pictóricos e outros, deixo de lado. Porque nosso pensar quanto menos vocabulário tiver e de uso sempre mais diminuído só fará com que ninguém mais leia, nem pense e assim aumentará a possibilidade de manipulação de “massas” humanas cada vez maiores.

Uma resposta para um pedido de apoio. 24/7/2020
 
 
Na área política eu já atuei no passado e não deu certo. Contigo agora já são três pessoas que vieram conversar, pedindo para apoiar e no fundo todos nós sabemos que os votos na ponta é o que importa. Mas, como disse, no passado já atuei e depois que fazendo as contas vi que as casas legislativas nunca representam a maioria pelos votos que os sentados lá obtiveram desisti. Sei que a legislação mudou e já tem uma diminuição na distorção dos "puxadores de votos". Eu penso que as eleições legislativas deveriam ser por maioria como no caso do executivo. Mas, isso ainda vai demorar porque ninguém é fiel a programa de partido nenhum. Eu particularmente tenho saudades do tempo em que se estudava a proposta, programa do partido e depois dentro do partido você procurava quem melhor representasse e tivesse condições de executar o programa. Isso tudo infelizmente não acontece e por mais boa vontade que se tenha concordo com um amigo que dizia: só é possível ser honesto numa legislatura. Ele era contra a reeleição. Entendo também que a procura por apoio que já recebi tem a ver com a questão ambiental. Aí temos outro problema quando um dia decidiram que o meio ambiente, ministério e secretarias, ou até partidos específicos, eram responsáveis por ele e não toda a população. Neste quesito penso até que todos os meus projetos ambientais faliram porque nunca os envolvi com algum partido político. As pessoas e organizações parece estarem sempre procurando quem é amigo e quem é inimigo. Como se fosse necessária uma luta constante e não um diálogo constante para o bem de todos. Por isso, hoje e com 60 anos de idade, não me envolvo mais e também parei com todos os projetos ambientais. Foram muitos anos tentando, fazendo o melhor e dando o melhor de mim para dar certo. Fico grato  pela lembrança e penso até publicar o texto nas minhas efemérides para não ter que pensar e escrever tudo de novo como já fiz em outras ocasiões.

Mesmo lado dos iguais. 19/7/2020

Tirei o dia para ler notícias, algo que faço por períodos porque as mudanças sempre são muito poucas, a história caminha com passos lentos e nós vivemos muito pouco, correndo individualmente para a morte certa, a grande linha de chegada.
Minha percepção e só minha, fica nestas memórias para que eu possa um dia acessá-las de qualquer lugar.
A sociedade brasileira escolheu na última constituição ter eleições para os governantes e legislativos. Não protestei contra, porque acho ser sempre muito prudente trocar aqueles que tem poder, para de tempos em tempos arejar os pensamentos, as mentes e os rumos de uma nação.
Se for comparar entre os grupos animais não temos um processo eleitoral de cada animal e sim a disputa de quem será o chefe, e que pela sua primazia dificilmente será desafiado por algum ou membro do grupo com força superior. Daria para fazer varias ilações a respeito e penso não ser preciso de todas elas. Basta saber que as espécies com seus mais diversos métodos de grupo ou não, garantiram a reprodução e existem até os dias de hoje. Isto é, importa continuar existindo.
Aí voltamos para nossa história humana, uma disciplina que quase todos não levam a sério nos tempos de bancos escolares. Quantas atrocidades, quantas guerras, quantas pestes, quantas bombas e mortes já aconteceram e chegamos até aqui. Dificilmente penso que ninguém tenha em sua linhagem u antepassados que foram ou dominantes ou dominados.
Voltando ao nosso país. Temos eleições e um domínio claro de 16 anos de um mesmo lado. Não vou classificar porque penso que não temos claro isso. Aqui sempre tivemos desde que me conheço por gente um mesmo lado somente. Porque digo de mesmo lado?
Mesmo lado porque fez as mesmas coisas, tomou o mesmo tipo de decisão e uma lista grande para corroborar minha posição.
O mesmo lado assume o poder e se aparelha para permanecer aí o máximo que der. Se voltarmos lá atrás, nós fomos colonizados e não somos parte de um processo de evolução natural e ancestral. Os ancestrais destas terras são outros. Tornaram-se invisíveis para os recém-chegados.
Então lá no fundo existe uma ânsia que passou por gerações de querer colonizar. Queremos aproveitar o máximo, nos estabelecer e poder ir dizer a outros o quão bom somos.
Volto a afirmar, continuamos sendo do mesmo lado. Nunca tivemos um governo genuíno deste ou daquele “lado” que as pessoas tentam colocar no papel, nas notícias. E este para mim é um problema para todo o grupo.
Diferente do que ocorre com outras espécies, na nossa pode existir a ditadura de uma minoria dentro do grupo e ela se repete pelos diversos “lados” porque todos continuam tendo um só lado.
Se um “lado” ocupou o poder por mais de uma geração humana e o aparelhou a seu favor, porque reclama agora que o outro “lado” que venceu a eleição não presta? Não estou dizendo que não devamos tecer criticas. Esta minha memória aqui é uma forma de crítica. Nós só estamos competindo para o mesmo e nada mais. O exercício do poder ainda não foi nestas terras um exercício de estar a serviço da sociedade, fazendo o seu melhor para seguirmos em frente e continuarmos existindo.

O campo e a bola. - 1/7/2020

Depois de 60 anos bem vividos constato que a evolução anda a passos lerdos. Talvez por isso mesmo que a natureza seja tão longeva. Ela tem todo este tempo para correr seus riscos, ter pequenas perdas que não a destruam, ganhos substanciais no longuíssimo prazo. Mas, nós não temos todo este luxo, somos aquela média rápida correndo para existir porque em pouco tempo também não estaremos mais na contagem.
Enfim, tudo isso para entender que ainda hoje existe o dono do campo e da bola. Sem campo não tinha jogo depois das aulas, ou nos sábados à tarde. Antes de construírem a ponte perto do ginásio onde estudei, o campo ficava nas terras de um colega. Depois conseguimos um numa área que ficou sem dono. Deve ter sido indenizada por causa da construção da ponte. Era um campo que foi sendo acertado aos poucos. Tira uma ondulação aqui e outra ali. Pronto, já não existia mais o problema do campo. Quem chegasse podia jogar e ponto.
Acontecia as vezes de ter outros dois times jogando. Aí o negócio era esperar. Uma espera que era medida por número de jogadores. Se o número de jogadores esperando excedia em número o dos que estavam jogando era clara a invasão e mudança por completo ou novas configurações para todos jogarem. Normalmente era resolvido com novas escolhas de jogadores para dois times.
Até aí tudo bem. Ainda existia a questão em relação ao dono da bola. E o dono da bola por incrível que pareça era na maioria das vezes que lembro o jogador menos talentoso. Aí foi criada uma regra séria para a época. Quem escolhesse o dono da bola para seu time, teria o direito de escolher o lado do campo que queria jogar. Bem, isso dava diversas vantagens em dia de sol, quando o campo ainda não era homogêneo em termos de nivelamento, terra e depois mais tarde grama.
E aqui estou lançando um olhar sobre os acontecimentos dos últimos 8 meses e constato que continuamos funcionando do mesmo jeito. Posso concordar que estou reclamando porque não sou nem o dono do campo e nem o dono da bola. É uma escolha minha sentar e escrever. Não estou nem compartilhando o texto, ou fazendo propaganda do mesmo para ter milhões de acessos. Pode ser que um dia você chegue até aqui por alguma pesquisa, palavra chave ou outro. Tudo bem a maneira como chegou não importa. Mas, daqui para frente vou te convidar para continuar.
Estou escrevendo para que minha consciência destes fatos possa me tornar mais autoconsciente. Vou tentar resumir para termos uma base comum. Digamos que um campo comum para continuarmos. Como animais nós temos consciência. Fugimos quando tem perigo, examinamos alguma condição de instabilidade, podemos até construir um ninho para abrigar os filhotes e outras tantas.
Como humanos nós temos uma capacidade a mais. Pensar sobre porque pensamos deste ou daquele modo. Estou aqui tentando pensar porque eu penso de tempos em tempos sobre esta questão do campo e da bola. Volto a dizer, nunca fui o dono do campo ou da bola. Então talvez pense assim porque queria estar jogando e aqui para não cair abaixo do nível da consciência, jogar é no sentido de relação, criar, ter uma equipe, um alvo, poder pensar, ter estratégias. Tudo aquilo que para mim faz com que eu viva.
Posso estar pensando nisso porque em todas as partes para ter amigas e amigos, poucos, conhecidos, bem mais, o esforço sempre partiu de mim. Têm pouquíssimos que posso contar fizeram o caminho inverso. É mais ou menos assim. Eu sabia jogar e tinha que procurar os campos e bolas. Com o tempo por passar por diversos campos, tipos de bolas e situações diferentes, fui ficando muito bom. Só que continuei dependendo de campo e bola de outros. E estes outros com o passar dos anos passaram a se comportar de modo diferente dos tempos da minha infância.
Lá no passado quem escolhia os dois times eram os dois melhores jogadores, aclamados rapidamente pela maioria. Alternadamente eles iam escolhendo um a um para formar o melhor time. E que vença o melhor.
Imagino que possa estará pensando sobre isso porque hoje a questão dono da bola e dono do campo continua. Talvez um pouco mais ácido meu pensar, porque se tiver recursos dá para construir um bom campo e ter a melhor bola para jogar. Sem nenhum problema sobre o lado que se quer jogar. Aí a questão é trazer jogadores que não precisam ser tão bons assim. E sendo mais ácido ainda, ninguém deve aparecer mais no jogo do que o dono do campo e o dono da bola.
Estes dois personagens não querem somente estar participando do jogo, eles querem ser a estrela do jogo. Vou abrir um parêntesis. Será que por isso os locais públicos para jogos em equipe diminuíram por isso? Na infância, qualquer várzea tinha um campinho e não era para se quebrarem no final.
Paro, penso mais um pouco. Talvez o melhor seja parar de pensar. Porque o pensamento também engana ao mesmo tempo. É duro admitir partir e não ter experimentado outro nível. Enfim, uma perda que num tempo curto não faz diferença porque o que importa é a linha da evolução que vai se construindo nestes altos e baixos. Minha autoconsciência diz que devo acreditar nela.

Bibliotecas digitais. - 29/6/2020
 

Sempre bom lembrar que na atualidade digital está ficando cada vez mais fácil ter acesso a livros. Se não tiver muito tempo, escolha uma das bibliotecas, navegue por alguma obra, leia algum trecho.
 
Ler é a chance que nos é dada para evoluir, saber mais, descobrir, questionar, instigar, manter a curiosidade. Escolher um livro para ler pode ser doloroso, então vamos começar com um trecho, um folhear o livro.
 
 
Biblioteca Particular Fernando Pessoa http://bibliotecaparticular.casafernandopessoa.pt/
 
Biblioteca Digital Mundial https://www.wdl.org/pt/
 
Open Library https://openlibrary.org/
 
Portal Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br/
 
Biblioteca Brasiliana https://www.bbm.usp.br/pt-br/
 
Machado de Assis – Vida e Obra http://machado.mec.gov.br/
 
Biblioteca Nacional Digital http://bndigital.bnportugal.gov.pt/


Sorria. - 24/6/2020

Parece conselho de autoajuda, mas não é. Sorrir sempre cai bem. Um exercício que nunca deveríamos deixar de fazer. Não precisa de academia, nem de horário marcado. Exige pouco esforço para começar. Um leve esboço de sorriso já é bom início. Quando sorrimos exercitamos os músculos da face, descansamos e ainda diminuímos nossas rugas. Risos fazem muito bem. Penso que possas ter outros tantos argumentos para sorrir e muito poucos ou quase nenhum para ficar de cara amarrada.

AquiLivros - 9/6/2020

Incentivar a leitura
Nunca foi tarefa fácil
Porque exige dedicação,
Procurar espaços,
Encontrar pessoas.
Foi possível chegar aqui,
Encontrar um cantinho,
Pessoas interessadas.
A vida é dinâmica,
Passa por estágios de evolução.
Aquele livro esquecido
Pode ser lembrança para outro.
O tempo de isolamento imposto
Não é para os livros.
As poesias, os contos, os romances,
As crônicas e as estórias infantis
Querem continuar livres,
Passar de mão em mão
Para estar com mais leitores.

Inquietações. 3/6/2020

Isolado desde 17 de março em casa, saí ontem para levar a labradora no veterinário. Ela já está idosa para um cachorro e precisa de cuidados. Nas horas tristes e alegres precisamos estar juntos para um cuidar do outro. Aqui entra a minha primeira inquietação. Ficar isolado não foi por um interesse pessoal e mesquinho, o argumento foi que poderia não ter lugar para tratar todo mundo. Como de fato não tem. Passado todo este tempo, penso que fechamos tudo demais no início e agora vamos ter uma onda de casos bem alta. E teremos que de novo ficar isolados por um período mais longo. O que não entendo é que até agora não compreendemos que a higiene básica nos falta, que a máscara é para não contaminar outros e assim todos deveríamos usar. Ficar um pouco mais longe é para ter uma contaminação controlada pelo vírus para todos poderem ser tratados. Enfim, todas as medidas são para termos uma contaminação progressiva e não um não pegar o vírus como a grande maioria pensa.

Outra inquietação é quanto a “fake news”. Já começa que jogamos no lixo a riqueza da nossa língua. A fofoca, o boato ou a notícia falsa dizem muito e sempre existiram em nosso meio, continuamos sendo colonizados. Então aqui vai minha posição pessoal que sempre poderá ser comparada com a versão que está em meu computador pessoal. Posso me manifestar aqui, usar as palavras que julgo serem necessárias para transmitir algo. Posso não ter leitor nenhum, mas coloco com acesso público, caso um dia alguém se interesse para pensar um pouco mais.
Então, dizer que alguém vai definir o que posso ou não publicar aqui é uma ingerência, é um tirar minha liberdade. Se alguém por outro lado fizer afirmações concretas e outros tantos, terá que provar se assim um dia for pedido por alguma ação judicial. Isso já aconteceu e muito, desde lá atrás com a fofoca, o boato e a notícia falsa. Se eu disser que o quadrado rolou barranco abaixo e matou muitos na beira da estrada. Esta última frase é totalmente sem conexão com nada e ligar ela a algum fato concreto só revela uma mente deturpada.

Seguindo, assisti no jornal a cena da morte de um negro americano assistido por pessoas próximas e depois a declaração de seu irmão sobre as manifestações agressivas e que estas em nada servirão para a sociedade. Vejam que não citei nenhuma fonte, não coloquei em qual jornal e nada disso. Se alguém quiser pode até querer que eu coloque em detalhes, porque eu poderia estar dando a minha descrição dos fatos do ocorrido a partir de imagens de terceiros. E estes também tiveram seus ângulos e assim por diante. Dá para entender como a teia que vai se construindo pode tirar do foco assim como estou fazendo aqui. Fui tirando seu foco da questão e indo para coisas menores que no fundo vão desmerecer o que tenho a refletir logo em seguida.

Quanto vale uma vida humana? Pelo visto ainda não entendemos ainda a pergunta. Vamos supor que “A” tirou a vida de “B” e “C” buscou vingança tirando a vida de “A”. Estaria correto? Não vou colocar respostas porque seria um início de conversa de amigos buscando evoluir e estar mais bem preparados para um futuro incerto.

Voltando a morte do negro americano. O que mais me causa inquietação é que a assistência não se manifestou. As pessoas próximas não entraram para ajudar a separar ou mesmo tornar sem ação o adversário do policial. Uma atitude que para mim é extremamente preocupante. O pior em cima disto é que as declarações dadas pelo irmão não foram tão divulgadas quanto a morte. Percebo que existe uma valorização da morte, do velório, do cemitério, do número de vítimas. Uma loucura que está aumentando em toda a sociedade. Uma pressão grande para mostrar a desgraça e nós assistimos ela confortavelmente em nossos escritórios e sofás. Uma generalização do horror que preocupa e muito. Os extremistas se continuarem cada vez mais longe, não se reconhecendo humanos, da espécie humana, estarão perdendo a grande oportunidade de união por um objetivo comum, um enfrentamento conjunto de uma dificuldade.

Uma troca de mensagens. 29/5/2020
Enviei este poema para uma amiga ontem.

Silêncio infernal

Toda esta sociedade
Apodrece a cada dia
E nem de adubo serve
Porque tem muito veneno

Cada um quer ter razão
Dizer o que pode
Aquilo que não pode
Sem nenhuma base sólida

Perdem-se todos nos melindres
Das paixões aguçadas
Como moribundo na fila
Sem vaga para ser enganado

Por isso quero ir embora
Deixar este perfume de necrotério
Para ver o sol se pôr
No meu silêncio infernal

Ela retornou com três mensagens.
"Isso é um desabafo"?
"Pois devo concordar que estão sendo dias difíceis...minha vontade é sumir pra um lugar tranquilo e me isolar em definitivo...rs".
"Pois viver em sociedade parece cada vez mais complicado".

E abaixo minha resposta para sua apreciação.

Agora lendo novamente gostei do que li. Esta é a parte divertida, consigo ler sem estar preso ao fui eu que escrevi. Um poema sintético e duro. Duro para enfrentar as durezas e vicissitudes da existência. O poema poderia ter ido mais fundo, mas o autor talvez tenha um problema com a ideia que se alonga muito. Num poema a mensagem pode passar sem ser julgada. Assim, você deve ter sentido um desabafo meu. Outra pessoa disse que era forte,  outra melancólico, outra profundo e outra pesado. Um amigo retornou dizendo que acertei o alvo da situação atual.
Bem, resolvi escrever e pensar um pouco mais sobre o desabafo e sua sequência nas duas mensagens seguintes. Tem algo me inquietando atualmente. Quando penso em base sólida, penso no uso da razão e quanto estamos longe de sermos racionais. Existem coisas que serão mecanicamente sempre as mesmas. A porta que abre e fecha, um passo dado após o outro, um força aplicada e a reação contrária.
Nesse contexto entra um conceito mais perigoso que é o de sociedade. Somos viventes gregários, quanto a isso não temos dúvidas. E somos uma espécie que se autodestrói. Escravizamos o outro em nosso benefício. Pode ser inclusive com o argumento de em nome da sociedade. Bem, de qual sociedade estamos falando? Daquela em que cada um diz ter razão, não pelo uso da razão, mas sim ser o dono da única verdade. Seguem as disputas e guerras como sempre tivemos. Alguns afirmam que foi isso que permitiu chegar aqui onde estamos. Penso um pouco além.
Será que não seria melhor se não precisássemos mais lutar para sobreviver e mudar o nosso foco. Neste isolamento todo, é fácil ver o que as pessoas estão fazendo. Elas estão buscando se aprimorar no uso da razão? Elas estão aproveitando para se aprofundar na busca do ser? Ou elas estão somente querendo continuar tendo uma vida preenchida com coisas para fazer, mesmo que sem valor nenhum, porque tem medo?
Um desabafo, uma inquietação danada de boa.

Observador quântico. 28/5/2020
Sou um bom observador quântico, que quando quer interagir com a coisa observada não obtém sucesso. Sabe porquê? Porque a cabeça da maioria, e põe maioria nisso, é cartesiana, fechada em seu quadrado.  Geógrafos falam com geógrafos, médicos com médicos, advogados com advogados e segue a lista com seus pares. Portanto, se quiser saber se vale a pena seguir mantendo relação com alguma pessoa, é bom verificar antes se ela tem amizades plurais ou não. Uma introdução diferente para um bom dia com um sol tímido despontando no céu anil de uma imensidão sem fim.

Penso... 26/5/2020
Penso que é preciso ter ideias, por mais estranhas que possam ser. Fazer uso do racional quando se está diante de tudo e todos. A poesia tem essa mistura de que gosto. Pode-se pensar, trazer uma ideia e se alguém reclamar não tem problema. Para estes a resposta padrão é, isso era só um poema. Mas, para os inteligentes, poucos, sempre é possível mais e mais evoluir. Nossa espécie chegou até aqui por causa dos diferentes, dos que ousavam pensar, e nunca foram a maioria. Existiram os seguidores, mas não que eles compreendessem tudo. Sabiam estar vivos. É isto que a natureza aprendeu para que a vida fosse possível.

De máscaras e nus. 11/5/2020

Toda esta pandemia depois de meses está dizendo que o rei está nu. O vírus, fazendo o papel de bobo da corte vem dar esta mensagem. Alguns reinados resolveram isolar toda a população para que não soubessem da triste mensagem. Um rei sem roupas mostra que não tem como vestir seu povo. Ficar exigindo isto e aquilo também não tem mais sentido. Enfim, a maioria obedeceu de pronto ou a força.
O vírus seguiu seu plano, escapando aqui e ali até chegar aos locais de mais difícil acesso. Tudo porque por mais controle que existam nos reinos, alguém sempre pode escapar levando de carona o bobo da corte. Uma simples travessia de estrada, uma calçada sem câmeras e lá vai ele para o próximo reino. Vai lá também dizer que o rei está nu e que as pessoas de seu reino são meras peças de todo um processo comercial. As pessoas se vendem, as pessoas se compram dentro da lei e da ordem. O mercado não pode acabar.
Nesta viagem ao redor da terra, o Covid encontra menos problemas do que Fernão de Magalhães em sua navegação ao redor da terra de 20 de setembro de 1519 com 240 homens e 5 caravelas até retornar com um último navio e 18 homens sobreviventes em 6 de setembro de 1522. Só uma curiosidade para lembrar como somos teimosos e seguimos em frente quando queremos.
Enfim, o bobo da corte já passou pelos reinos e agora vai percebendo alguns desfechos interessantes da própria humanidade. Afinal, as pessoas não votam em ditador e nos reinos onde ditadores ordenam aparentemente o bobo da corte foi expulso. Isso mesmo, porque o bobo da corte sabe como Magalhães, o navegador, que a terra é esférica e sempre dá para voltar ao ponto de origem seguindo em frente.
Em alguns reinos, onde existem outros reinos em seu interior, observam-se desavenças que são contornadas de modo pacífico pelo lado mais fraco. Índios americanos em Dakota do Sul, Estados Unidos, fazem teste de todos os que passam pelas rodovias em seus territórios e dizem não se intimidar com as leis, pois eles as estão seguindo. Dizem que uma nação deve proteger o seu povo e eles estão fazendo isso. Penso não ser nada fácil para exploradores comerciais nestes tempos de pandemia.
Depois de tanto tempo e com idas e vindas. Tem um reino que é muito divertido.  Enquanto alguns outros procuraram tomar rumos para ao menos trazer uma toalha para o rei e assim também para as pessoas do reino, este reino em particular ainda analisa se o que ouviu é verdade.
O bobo da corte já disse que estão nus. Mas não se importarem, afinal, lá no passado, os antepassados, sem condição nenhuma de viver em outros reinos foram trazidos e deixados aqui. Se pudessem reunir riquezas poderiam voltar.
Este reino, como muitos outros, só existe de fachada. Porque sempre foi de súditos de outro reino que aqui vieram explorar as riquezas. Nunca se constituiu como um povo, uma nação. Talvez um dia este e outros reinos ainda venham a ser de fato uma nações humanas, livres e independentes.
E continuando neste reino em particular, a ordem estabelecida não consegue entrar num acordo, se é melhor deixar que as pessoas encontrem o vírus logo ou se é melhor irem dando uma espiada pela janela sem o tocarem. Saber que se está nu não é o problema, o problema é que depois de saber não se tem lugar para encontrar roupas, costurar, acertar. Não existem locais adequados para todos esconderem sua nudez.
E pior ainda, como as pessoas são vistas na maior parte do mundo como peças, elos de consumo e produção, muitos procuram tirar vantagem, corrupção, propina, desvios e muito mais para juntarem riquezas e formarem seu pequeno feudo com os que sobrarem.
Em meio a isso tudo, vê-se que muitos vão aprender porque todos os reinos descobriram que estão nus. Alguns poderão esconder, dizer que não, mas um dia a janela estará aberta e o bobo da corte irá entrar para dar sua mensagem.
Outros zombam e vão nus para a praia usando somente máscaras. Tem aqueles que riem por saberem que eles poderão cair. Qual diferença faz se hoje ou amanhã?
E as pessoas de todos os reinos? Os 7,594 bilhões de habitantes tem hoje 4,123376 milhões de habitantes que confirmaram ter visto o bobo da corte e 283.055 morreram (Global Deaths) pela ação do vírus COVID-19.
Portanto, se chegou até aqui é porque ainda está vivo. Não faça cálculos sobre probabilidades. Pense um pouco. O esforço gastará muita energia, mas valerá a pena. O bobo da corte veio para mostrar que o rei está nu e nós também, com ou sem o uso de máscaras. Qual roupa irá usar para vestir a humanidade? Seremos mais humanos ou continuaremos querendo servir a outrem? Seremos novos depois da passagem do vírus ou iremos lutar com unhas e dentes para que tudo volte a ser como era?
O bobo da corte sempre poderá passar novamente e nos encontrar só de máscaras e nus.

Todos sempre sabem. 28/4/2020

Como custa aprender algo novo. Não pelos dados, informação e conhecimento que vai sendo construído. Mas, por ter que admitir que não sei. Para mim isto é algo normal, porque não ganho nada dizendo que sei quando na verdade preciso buscar aquilo que não sei.
Todos sempre sabem por um problema cultural e estúpido, uma não evolução de nossa espécie até aqui. Paramos de pensar de forma mais ampla. Ainda estamos presos ao que é superior ou não. Então quando querem tirar um problema do caminho, existe uma solução fácil. Nomear para chefe e danem-se os subordinados.
No caso particular e pessoal, por falar de forma incompreensível estou praticando mais a arte da escrita da instrução, daquilo que deve ser feito. Aí não tem como dizer que foi ou não.
E em letras maiúsculas, EU NÃO SEI. Se soubesse tudo não precisaria estar com as pessoas. O convívio, a troca, as leituras, fazem parte do nosso crescimento, da busca de alvos maiores.
Claro que isto é uma ilusão em nossa cultura, a maioria está feliz com sua rotina diária, presa a nada que tenha que gastar energia. O cérebro se torna obeso, não pensa, não sabem raciocinar e a vida seque. Uma vida vegetativa, onde alguns poucos tiram proveito. Quanto mais esta escala aumenta, pior fica a situação. Acabamos seguindo para o abismo, como frangos para o frigorífico. Na viagem de ida uma última lufada de ar fresco. E todos sempre sabem.
Quer dizer, dizem que sabem, mas na realidade não sabem de nada. Nem se quer conseguem pensar em suas agendas e melhorar as sequências do fazer para ter mais tempo para convivência pessoal. Estar com as pessoas. E a ignorância só aumenta, mesmo com muita leitura de analfabeto. Aquela leitura que diz ser difícil quando obriga a pensar, ou quando a frase não tem uma sequência de sujeito, verbo e complemento.  Todos sempre sabem o que é melhor. Por que continuamos na mesmice? Porque todos sabem.

Interesse geral... - 26/4/2020

Até bem pouco tempo, o que para muitos podem ser anos, para outros meses, ou mesmo semanas, tinha a preocupação de passar alguma mensagem, escrever, num contexto de interesse geral. O que seria interesse geral? Aquilo que gera vendas? Aquilo que pode apresentar algo novo?
Bem nos primórdios, quando escrevia um boletim técnico semanal, ele tinha formato já estabelecido e como não tinha controle foi fácil realizar algumas mudanças. Além das informações técnicas, tinha algum artigo de opinião, uma inquietação mais ampla, um caso ou causo. Quando esta coluna foi inserida no boletim não obtive nenhum retorno.
Depois de um ano, por questões financeiras, a coluna foi retirada e depois de mais um tempo o próprio boletim. Ninguém reclamou, ficaram todos em silêncio. Nenhum retorno e mais, acabei escrevendo outro boletim, em outro contexto numa instituição que queríamos fundar.
A mesma coisa, um trabalho semanal árduo porque a temática não era fácil. Pela experiência do primeiro, comecei a gostar de escrever e pensar, não mais porque tivesse alguém interessado na outra ponta. Mas, sim para ter uma maneira de guardar minhas ideias. Vai que um dia elas pudessem ser úteis. Como este também era institucional não vou citar porque não tenho os direitos sobre o mesmo e nem sei se sobrou alguma cópia na internet. Poderia até procurar e talvez encontrasse algo.
Depois deste ainda mais uma tentativa com publicação sempre para um público específico e com assuntos de interesse geral deste público.
Bem mais tarde, não vou saber precisar quanto descobri alguns leitores do primeiro boletim técnico. Eles disseram que tinham ficado tristes quando parou a circulação. Eles sempre tinham algo novo para pensar a partir da minha coluna e isso ajudava nos trabalhos. Aí perguntei porque quando parou a coluna não se manifestaram, poderíamos ter argumentos para continuar. A resposta que recebi: se disséssemos isto nós estaríamos dando valor a você e isso nós não queríamos.
Bem, não preciso dizer que a conversa parou aí e nunca mais escrevi pensando em público ou interesse geral com afinco. Passei a escrever a noite nos meus cadernos, os rascunhos de muitas ideias que depois foram culminando em textos mais sintéticos.
Antes disso ainda tentei mais uma vez, dar partida numa instituição ambiental que poderia ter o nome de religar. Algumas pessoas se reuniram, todas desistiram porque esperavam que tudo estivesse pronto. Lá levei adiante um boletim para dar vida, história para algo que pudesse existir um dia. Deste posso falar e citar porque era todo de meu controle. O boletim se chamava Religar Semanal. Eu era o autor de quase 100% dele. Foram 50 boletins que podem ser acessados no site religar.net.
Deste também recebi poucos comentários, todos divertidos. “É só você que escreve?”. Minha resposta: você pode começar já no próximo número com sua participação. Aí a pergunta seguinte: “E quanto eu ganho?”. Minha resposta: o mesmo que eu, nada, precisamos ter mais pessoas participando e depois criar a instituição e blá, blá, blá.
Uma instituição de um sujeito teimoso com três projetos embaixo dela e um boletim. O resultado foi que não deu certo, não consegui massa crítica para dar movimento e o carro ficou morto na beira da estrada.
Depois do Religar continuei escrevendo meus poemas e divulgando num grupo que criei. Ia bem, até que um dia um suposto “amigo” pôs tudo a perder. Fez um comentário que não combinava e como todos liam tudo de todos, uma amiga retornou. Ela me disse que isso não seria bom, para um grupo de poesia e sugeriu criar uma lista de distribuição.
Acabei criando uma lista de distribuição somente para quem gosta. A lista tem hoje 188 pessoas que conheço pessoalmente, gostam e aceitaram que eu envie meus poemas. Destes, tenho um retorno na média de umas 15 pessoas. Elogiando, algumas críticas e outras perguntando se podem compartilhar.
E assim, nesta data, tenho divulgado os poemas no Facebook, Instagran e nesta lista do Whats.
Escrevo poemas para interesse geral? Não. Os poemas geram vendas? No caso venda do livro Sonho? Não.
As duas respostas anteriores seriam preocupantes se tivesse que estar vivo a partir do que escrevo. Por isso tenho que buscar outra fonte de renda. Mas isso não impede de continuar escrevendo. Porque em toda esta trajetória de não sucesso existe aquilo que ninguém pode tirar. Aquilo que fiz e que não foi visível individualmente. As escritoras e escritores que se animaram a escrever. E eles são muito melhores do que eu.
Enfim, quando escrevo, estou buscando algo novo. Pode ser uma pergunta, um sonho, uma questão antiga, filosófica e a lista seria longa. Perdi totalmente o interesse de escrever com um interesse geral.
Este texto está aqui na internet, e talvez nunca venha a ser lido. Ele está aqui, porque tinha o costume de escrever no caderno e hoje resolvi pensar um pouco na memória. Quem sabe um dia ela possa inspirar outras e outros para também deixarem de lado o conhecido e aprender voltando novamente ao seu ser criança, com curiosidade constante.

Um cálculo estranho. 24/4/2020

Vamos supor que eu tenha 100 unidades de determinado bem que mede minha posição atual. Poderia ser um número só a título de comparação. Posso supor que sejam 100 unidades de R$1.000,00. E isto seria meu patrimônio. Aí resolvo fazer um negócio no qual preciso investir 40. Se tudo der errado vou perder os 40. Foi isso que aconteceu e agora só tenho 60 unidades. Para chegar ao patrimônio que eu tinha, será preciso que este patrimônio atual cresça 66,7%. Será uma recuperação fácil? Possivelmente não e talvez nem ocorra e acabe entrando para a estatística daqueles que não cuidaram do patrimônio, aceitando relações de risco e retorno aceitáveis numa única operação.
Agora pensei num caso hipotético de um poder com 100 participantes. Tudo hipotético para facilitar a comparação. Com o passar do tempo, pequenos desvios de conduta foram sendo aceitos. Destes 100, uns cinco sempre aprontaram e se safaram. O sistema ainda conseguia aguentar. Vieram alguns e disseram que tudo precisava ser corrigido, mas também se aproveitaram quando viram que era bom. Os de conduta duvidosa foram aumentando, 10, 15, 30 e por aí foi. Chegaram a ser em torno de 40.
Poderia pensar que 60 contra 40, o maior número venceria. Mas, não é bem assim. Seria preciso recompor, trabalhar duro para que tivéssemos uma diminuição daqueles de conduta duvidosa. Quanto nós teríamos que ter de crescimento dos 60 para voltar a 100, 66,7%. E os 40, se crescerem no mesmo percentual seriam quantos? Fariam mais de 65 facilmente.
Por isso penso que só podemos correr riscos pequenos, tanto financeiramente quanto em qualquer situação. Desvios nós sempre teremos pelos mais diversos motivos, mas não podemos deixá-los de lado, fingir que não foram vistos, apadrinhar os mesmos ou mesmo tolerar por ser parte da família, do círculo de amigos, do corpo profissional. Tudo porque recuperar custará muito mais ou poderá nem acontecer e os efeitos devastadores serão sentidos por muito mais tempo do que possamos imaginar.

Boina cinza. 21/4/2020
Entre o branco e o preto existem muitas possibilidades, todas são tons de branco, ou tons de preto, tudo depende do referencial. Os extremos sempre serão problema em qualquer situação. Já sabemos disso pela história, mas temos uma dificuldade enorme de compreensão. Cada um se apega em sua fé, ao invés de preferir as crenças. Se tu perguntares ou fizeres sinal de interrogação vou dizer que tudo bem. A crença pode mudar e evoluir, ser algo melhor depois. A fé por outro lado é uma m... A fé é imposta e quando aquilo que se promete não acontece a culpa passa a ser do fiel. Diz-se que não teve fé suficiente.
A crença por outro lado, se não acontecer algo melhor, pode ser verificada, aumentar o estudo, descobrir falhas, enfim, tudo o que pode mudar e tornar a vida melhor.
Hoje é um dia de grande felicidade e realização concreta do caminho que vai sendo construído com seriedade, ética e profissionalismo. Estou usando boina cinza, das que se amarra atrás. Ganhei de presente de um amigo quando pedi onde poderia comprar. Parece com aquelas boinas de roqueiro, mas ele usa no consultório.
Aí eu assisti, nestes tempos de Covid, uma série onde os boinas cinza eram os melhores defensores da população. Penso que não sem pensar, a escolha foi feita justamente para não estar nos extremos. A defesa precisa evoluir e não é possível querer e nem acreditar que a vida estará num dos extremos do pendulo. Sobrevivem os que melhor se adaptam e a adaptação é constante. Isto é, nada de extremos e ponto final.
Sem querer dar conselhos, vou continuar preferindo alguma opção entre extremos e tendo a crença de que terei aí o melhor resultado.

Quando será real? 16/4/2020

Quando criança tinha curiosidade que com o tempo foi se perdendo e a realidade passou aquilo que meu filtro conseguia ver. Um filtro com diversas crenças, dando uma parte ou talvez até nenhuma da realidade. Sempre tive uma ideia de que temos muitas possibilidades e oportunidades na vida. Pensei sobre elas muitas vezes e hoje chego num ponto crucial. Quando será real? Fui percebendo que não basta saber que elas estão aí. Até posso vê-las muitas vezes, achar interessante. Mas, logo depois tudo continua na mesma, sem nada melhor para acontecer. Então me voltei para uma ideia que já devo ter lido e pensado sobre. O nosso cérebro tem um acoplamento para compreensão da realidade. Digamos que este tal filtro. Vou pegar um exemplo bem simples. Passa uma pessoa que fala um idioma que não compreendo. Ela passa, fala e nada acontece. Ela faz isto todos os dias. Devo considerar que ela teve grande paciência. Até que um dia procuro descobrir quem ela é e estudo sua língua. Isto é passo a compreender o que ela está dizendo. Aí descubro que ela estava pedindo ajuda para retirar um tesouro que caiu num poço. Claro, estou exagerando, mas entenda o tesouro como algo de valor, que vai melhorar a vida. Até parece que estou escrevendo uma autoajuda para mim. Não tem problema, é este o efeito que quero causar. Acreditar de uma vez por todas que é preciso acreditar para que algo se torne real. Não aquele acreditar onde é preciso ter fé num poder maior. Mas algo bem mais prático. Acreditar é dar a chance de uma possibilidade se tornar realidade. Tenho a ideia, acredito nela e vou a busca de sua consecução. Por isso dizem que é preciso ter cuidado com aquilo em que se acredita, poderá se tornar real. Isto é tenho que acreditar primeiro em mim de que posso acreditar em algo novo que antes não existia e para isto preciso mudar o modo de pensar. Aprender este outro idioma, para dar a chance de que possa ser real.

Meio do caminho. 12/4/2020

Desde o nascimento nossa jornada segue etapas e dando um salto vou imaginar que aprendi a ficar de pé. Isto é, antes de ficar de pé, gatinhando no chão tinha uma perspectiva lá do alto. Devo ter tentado ficar de pé várias vezes e ter caído. Voltei, reuni forças, músculos precisam ser treinados para sustentar. Mais tentativas e mais visões para chegar lá em cima.
Uma vez de pé, outros horizontes se abriram. Tinha algo diferente alguns passos à frente. Era preciso equilibrar para não cair lá embaixo de novo e ser obrigado a recomeçar.
Mas, o primeiro passo foi um tombo, e deitado no chão fiquei com vontade de desistir. Para quem esteve de pé é impossível esquecer a possibilidade de algo melhor alguns passos à frente. Era preciso levantar, equilibrar e dar um passo depois outro e chegar lá.
Tudo isto que estou escrevendo é um pensar depois de algumas aulas pela internet com Bo Williams. Queria registrar esta memória porque penso que ela já está muito bem armazenada e aqui é somente uma garantia. Nas aulas a aplicação é outra e contou com outros exemplos.
Como música de fundo eu estou ouvindo Ramones, não pela letra porque não sei inglês, algumas vezes quando interessa coloco o tradutor. A preferência é pela força da batida forte, ela acorda os neurônios.
Esta jornada um dia iniciada e sempre estando a meio do caminho marca forte como a batida. Para um sinal passar adiante é preciso ter energia. Se ficasse só com o curso e alguma leitura não iria tão longe. A música tem este efeito de levar adiante. Não me pergunte nem como nem porque. Vou divagando com aquilo que se apresenta. Penso que se passar deste parágrafo o restante deslancha. Somos assim, sempre meio alguma coisa, procurando ser preenchida de alguma maneira.
Vou pensar um pouco nas relações entre as pessoas. O amor de duas pessoas que estão no meio de suas jornadas procurando alcançar um objetivo. Uma confusão porque cada um vem com sua visão lá de cima. Tem momento em que se encontram no meio do caminho e dá certo, mas e depois. Como será? Precisariam todos saber que sempre estão numa viagem, no meio do caminho.
As vezes a paciência da experiência do saber pode dar uma luz, mais paciência, compreensão mais ampla. As vezes voltar, refazer energias, pode mostrar outros objetivos múltiplos. Uma escada, uma ferramenta, uma curiosidade para ir a frente por outros caminhos.
Se estamos sempre no meio da jornada, do caminho,  quer dizer que posso mudar o caminho. O mais desajustado diria que é uma fuga por não ter conseguido fazer o outro caminho.
Penso que não. Não é nada inteligente querer ficar sempre no mesmo caminho. Existem tantos mapas quanto nossos mapas entre neurônios. Assim, porque não aproveitar e ir mais longe, sendo mais eficiente, sem desperdiçar energia, procurando o melhor retorno. Qual seria?
Chegar num ponto da jornada e se divertir pelo feito é o começo para poder ver melhor e já em frente ver outro objetivo, outro caminho. Todo o resto não tem importância. E nesta sabedoria que se adquire com as diversas experiências, a aventura maior é perceber tudo ao lado, para viver bem com alegria, só isto importa.

A poesia. 2/4/2020

Sou dos tempos mais antigos e sempre gostei  de escrever. Sentava com um caderno no colo e caneta correndo pelas linhas...
Escrevo minhas opiniões, minhas desavenças, minhas memórias, descrições sobre o que ao meu redor passa. Às vezes, posso estar longe; noutras, envolvido e, mesmo assim, é uma prosa que salta. Às vezes, pelas linhas, às vezes pelas teclas, para ficar escondida em algum lugar desta nuvem digital.
Outro dia, tem pouco tempo, alguns anos, a memória já me falha... comecei a pensar de outra maneira, e a prosa já não cabia para trazer algo inesperado, de dupla compreensão, cortante mais que navalha.
Fiquei sonhando e saiu um amor desencontrado, em poucos versos, algumas estrofes. Daí em diante a morte passou a ser meu tema preferido. Não para descrever um velório, um enterro ou algo concreto. Precisava trazer algo para pensar, instigar, provocar, fazer a diferença.
O encontro com a poesia foi espetacular! Ela é  minha amante, e ninguém pode desconsiderar. Podem achá-la feia, linda, sem sentido, perdida no vazio, alegre, triste, em fuga desesperada, mas sempre será minha companheira em todas as horas e momentos.
Estou nessa prosa e ela está bem ao lado, cutucando-me, espremendo meus dedos num devaneio para mostrar-me o que é melhor.

Tu me tens no silêncio
Quando fecham as cortinas.
A noite nos alimenta,
Ficamos unidos.

Deves aqui ficar,
Armar teu lugar,
Sentir o calor forte
Mesmo que frio lá fora.

Não finjas dormir!
Em sonho vou estar
Para mais uma vez lembrar
Que sou tua preferida.

Dorme, dorme.
Quando acordares
Estarei lá também,
Sou tua querida poesia.

O isolamento abre uma janela. 2/4/2020

Hoje acordei com ar frio entrando pela janela. Uma frente fria no início do outono indicando que vamos ter mudanças como acontece na ordem planetária do movimento sobre o próprio eixo e ao redor deste sol maravilhoso que brilha por entre as ramagens da jabuticaba.
Aqui estamos em isolamento desde o dia 13 de março seguindo as recomendações médicas. Penso que para muito é um martírio tanto no aspecto econômico, quanto psicológico e emocional. Platão dificilmente teria imaginado que um dia uma grande parte das pessoas na terra sairia da caverna ficando em casa. Podes achar estranho, mas é isto mesmo.
Economicamente somos peça de um conjunto. Neste conjunto tudo o que temos é uma rotina estressante, imagens que passam o tempo todo, informações que desinformam e muitos precisando lutar o dia todo para ter um prato de comida à noite. Enfim, somos controlados e vigiados o tempo todo para não sair, dar uma espiada em como poderia ser.
O sistema como um todo não dá conta de atender a todos. Pode pegar qualquer coisa, os parques, os cinemas, as ruas, as escolas, os hospitais. Se todos dos prédios quisessem ir para a rua seria um tumulto e tantos. As rotinas foram sendo criadas e encaixadas de modo a permitir que as pessoas só tenham encontros ao acaso dentro daquilo que frequentam. Os grupos ficam bem separados para evitar movimento maior.
Não estou dizendo que existe uma grande mão que tudo guia. Tudo é minha percepção de como estávamos em nosso dia a dia até o aparecimento do COVID-19.  Já tivemos outras pandemias e esta levou bastante tempo para ser confirmada oficialmente. Tudo porque a engrenagem deste todo não pode parar. Se certo ou não tanto faz, a questão é que estamos em plena pandemia com muitos infectados, sistemas de saúde que vão sendo sobrecarregados, corpos pelas ruas porque as funerárias não dão conta, pessoas sem condições do mínimo para viver e a lista segue.
Um grande feito deste vírus. Descobrimos que nosso sistema simplesmente não funciona se todos se rebelarem e quiserem algo melhor. Sim, porque enquanto estamos aqui isolados e sendo alimentados e socorridos, muitos estão trabalhando para garantir o sustento, no mínimo básico para a grande maioria. Tem até uma frase do ministro da economia do Brasil que achei interessante e reveladora deste problema, “nenhum brasileiro será deixado para trás”.
Olha só aonde chegamos. Dizer algo assim não seria necessário se no dia a dia da grande caverna a preocupação fosse pelo bem estar do conjunto, de toda a sociedade. Quando o vírus passar eu espero que na nossa volta ao dia a dia, convivendo caverna social de seus grupos e grupelhos, lembremos de que tudo pode ruir em poucos dias. E o vírus foi só uma amostra do que é possível.
Esta situação, o isolamento voluntário ou não abriu uma janela para olharmos lá fora. O lá fora é o nosso interior. Ver como somos tacanhos, mesquinhos, cegos, ignorantes, arrogantes, medrosos, gananciosos. E talvez num canto encontremos nosso ser, bem escondidinho. Um ser que junto com outros seres poderá dar uma possibilidade melhor no futuro.
Precisamos urgentemente de uma compreensão ampla, a consciência de nossa existência como espécie humana. Caso contrário vamos continuar tendo lições de dor até aprendermos ou até não aguentarmos mais e desaparecermos de vez. Chocante? Eu prefiro aprender pensando?

Olhar de cima e o andar térreo. 1/4/2020

Anos atrás numa conversa com meu amigo Flávio se alguém ouvisse diria que era falta de ter o que fazer. Estávamos na beira de uma mata, na parte mais alta e olhando lá para baixo começamos esta conversa. Aqui é mais ou menos o que lembro. Imagine que aconteça uma catástrofe e nós tivéssemos sobrevivido sem nenhum estrago maior aqui, só nas cidades.
Bem, com o COVID-19 penso que nem preciso ser mais claro. Continuamos a simulação pensando que se quem planta tivesse o que comer poderia sobreviver. Aí entraria um primeiro ponto. Só daria para plantar o que fosse comum, nada de sementes modificadas e outras coisas produzidas pelas indústrias. As indústrias na nossa catástrofe também se foram, ao menos na imaginação do exercício.
Aí as pessoas teriam fome e iriam atrás de comida. Grandes hordas de peregrinos a mais um passo do fim último caso não encontrassem nada. Então, um dia chegariam a quem planta, produzindo comida, e saqueariam. Ou quem sabe até os transformasse em escravos produtores de alimentos. Bastaria um tanto de armas, combustível. Claro que não poderia durar muito.
Enfim, nossa conversa seguia tendo os prós e contras, sem chegar num final. Era só um fim de tarde com o sol indo descansar no horizonte.
Hoje, com todas as notícias começo a perceber que o nosso exercício faria todo sentido. Cenários sempre precisam existir para termos ao nosso alcance as possibilidades para continuar existindo. No entanto pode não ser tão fácil. Se pegarmos o estritamente funcional de estar vivo, então quem vive é quem produz sua comida. Todos os outros seriam desnecessários desde que não contribuíssem com a produção da comida.
A sociedade foi sendo sofisticada e controlada, tendo grandes ocupações para todos os outros. Desde que com menos humanos passou a se produzir excedente foi possível deixar muitos mais a toa, ou melhor, sendo controlados para ficarem a serviço de todo este modelo que no fundo continua sendo de dominação de uns poucos sobre muitos.
Não quero aqui entrar em nenhuma discussão político partidária, sociológica ou outra. Sou só alguém muito simples que sabe estar numa engrenagem e quando não for mais necessário é descartado. Já fui descartado tantas vezes que nem lembro mais de todas.
As notícias e informações dos mais diversos recantos do mundo, do nosso planeta terra, indicam que a ideia de poder continua vigorando. Talvez ela faça parte do nosso controle natural do tamanho que podemos ser como espécie habitando este planeta. Mas, para mim, precisar exercitar o poder para controlar e manter tudo nos eixos ainda é uma falta de evolução.
Nós não temos senso de conjunto da espécie humana. Cada família quer ter a quantidade de filhos que quiser sem se importar com a qualidade. As justificativas são as mais descabidas possíveis. Seria interessante levantar quais são e perceber que para o exercício do poder, a natalidade responsável nunca é trabalhada. Muito pelo contrário sempre incentivada de manhã à noite.
As respostas ao COVID-19 tem sido de dois tipos pela minha modesta observação e depois de todo este introito penso chegar ao título lá de cima. Existem as respostas de quem olha de cima. Consegue ver com amplitude a ação do vírus que passa como um vento forte pela grande plantação. Algumas plantas são arrancadas pela força, outras quebradas, algumas dobradas e a grande maioria ficam de pé. Isto é, passará o tempo e depois tudo volta ao normal. Em muitos anos, nem sempre isto acontece. Claro que a ação precisa ser rápida, afinal, plantas caídas e torcidas ainda pode ser aproveitado como alimento e deixarão que outras tenham mais sol para crescer.
Este olhar de cima para o COVID-19 indica que as ações devem ser feitas e sem desespero, saindo que nem maluco, porque tudo é uma questão de tempo. Para os países, estados, municípios, cidades que tiveram sistemas bons de saúde, povo higiênico e educado, nada de alarde. Todos vão sendo atendidos, a curva de subida de casos vai acontecer e segue a vida com uma pausa, um distanciamento social. Estes que não tem seus sistemas engessados também são os que têm a capacidade de economias para tempos difíceis. Quantos têm esta condição? Deixo aberto para sua avaliação.
O andar térreo está em polvorosa e posso dizer que o paralelo é direto. Lá nos porões incluídos, temos toda sorte de problemas. Lembra-se da conversa anterior, as peças da engrenagem que não produzem sua comida e só fazem parte da estrutura. Entram todos aqui e até eu no momento atual. Se o sistema não se mantiver funcionando como está, meu tempo de vida sem qualquer recurso adicional seria inviável.
Aqui entram em desespero os que governam pequenos feudos. Convido para fazer sua lista. Estes governantes precisam desesperadamente que o sistema funcione, porque caso contrário tudo entra em colapso. A máquina social atual precisa funcionar. Se ela parar muitos vão morrer mais por falta de condições de vida do que por causa do vírus. Sem exageros, imagine que no térreo ninguém tem economias e muito menos acesso a boas práticas de vida com poucos recursos.
Existe um agravante global nesta crise com o COVID-19. Não tem nenhum país forte o suficiente para bancar os outros e trazer o equilíbrio da máquina como um todo. Deixe de lado qualquer crítica se é bom ou não, nada de julgamentos para poder apreciar com mais perguntas do que respostas. Este bancar os outros já aconteceu no passado após as guerras. Se bem que o vírus da primeira guerra mundial também foi devastador. Este vírus talvez para mostrar que as guerras de nada valiam, não eram nada frente a um inimigo em comum que acabou de chegar, sendo até transportado pelo navio que transportava as correspondências entre os países.
A situação fica pior porque temos disputa pelo poder global nos andares de cima. Todos buscam a cobertura, a visão ampla dos seus domínios. Sabendo que o vírus vai passar e por enquanto pelas estimativas sem fazer grandes estragos. A máquina depois voltará a funcionar.
Quantas destas pandemias já aconteceram? Quanto nós evoluímos depois de cada uma delas? Em muitas frentes, mas todas não foram suficientes para uma compreensão de todo. Nós ainda fazemos as coisas para buscar o que não importa, começando por ter coisas e mais coisas, em sua maioria são inúteis.
Sonhar não é proibido e muitas ficções tem algo próximo. Espero que não precisemos de tantas pandemias para aprender algo, evoluir em nossa existência. Cuidando para que tanto os humanos dos porões e do térreo quanto dos outros andares aprendam a ser responsáveis. Se faltar tudo, os prédios desabam porque os fundamentos serão derrubados. Um caos geral, e talvez recomece com a mesma disputa, reerguer a pujança do passado para dominar.
Poderíamos aproveitar e pensar diferente, mas acho dificílimo porque tudo será feito para manter a máquina funcionando e as pessoas bem controladas pelas mais diversas ameaças e pânicos instaurados. Enfim, uma memória que estava o dia todo tirando a concentração porque queria nascer.

Na solitária com o vírus. 28/3/2020
Este texto é um ensaio de várias ideias que foram se encaixando nestes dias de solitária, isolamento social para o politicamente correto. Tudo por causa do COVID-19. Talvez não vá chegar numa conclusão final, também não é o objetivo. Queria estar com estas ideias conversando com alguém de carne e osso ao meu lado, sem maldade, sem ser político partidário ou qualquer outra denominação de nossos grupelhos insensatos.
Primeiro queria apontar alguns números, a matemática sempre majestosa para nossas necessidades de entendimentos abstratos. Um gráfico tendo como fonte o Banco Mundial aponta que em 1960 a população humana era de 3,032 bilhões indivíduos e em 2017 um total de 7,53 bilhões. Em 57 anos acrescentamos 4,498 bilhões de indivíduos, um crescimento de 148,35%.
Segundo, olhando agora para os dados de hoje do “Coronavirus COVID-19 Global Cases by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU)” temos um total de 607.965 infectados, 28.125 mortos e 132.688 recuperados. Um vírus que se propaga rapidamente. Desde que venho acompanhando estes dados em janeiro de 2020, os infectados estavam na Ásia, a curva vinha em ritmo aritmético e hoje estamos em proporções geométricas.
Por último, uma análise matemática dos dados anteriores. Se eu digo 28.125 mortos é um número bem grande visto que pessoalmente só tenho uma vida e isto assusta bastante. Basta ver como estamos em isolamento social na maior parte do globo. Agora dizer que até agora dos infectados 4,63% vem a óbito já é mais palatável, muito embora ainda maior que um. E com relação ao número total de indivíduos, só 0,37%. Um número bem mais palatável. Não achas?
Os parágrafos anteriores são somente para ampliar a percepção com relação a nossa finitude. Em algum lugar eu já devo ter escrito ou falado sobre o quanto a natureza é sábia. Uma sabedoria adquirida em seus milhares de anos, enquanto nós vivemos alguns anos. Ela também pode seguir em frente com ou sem a nossa existência. Ela, a natureza, é de difícil compreensão. Parece uma senhora idosa e cada vez mais teimosa por acreditar que o melhor é ajudar aqueles que ela gerou e cria com carinho.
O paralelo que vou traçar é fácil para compreender pegando um núcleo familiar que estivesse restrito a ter um terreno e uma casa somente. Este exemplo existe na vida real, então fica mais fácil. No início a construção de uma casa com um cômodo. O casal, o início de tudo. Depois resolvem ter filhos e constroem mais um cômodo e assim vai até usarem quase todo o terreno. Os filhos saem e casam, alguns voltam para casa e um quarto apertado vira o lar de um novo casal. Mas a situação fica complicada, aí resolvem construir um prédio. Fazem um andar acima da casa. Um dia pega fogo, desmorona, alguns se salvam.
Os que se salvaram pela experiência anterior sabem que precisam de melhores fundamentos para construir um prédio para abrigar a família. Vão imaginando um futuro com muitos descendentes e tudo começa de novo. O prédio fica muito alto, todo ocupado. Aí ultrapassam a capacidade dos fundamentos e tudo desmorona. Um estrago, muitos mortos e poucos sobreviventes, um pouco mais do que quando o prédio menos pegou fogo.
Deus para perceber o paralelo? Penso que a natureza em sua sabedoria está dando um sinal de que a nossa terra comporta certo número de indivíduos da espécie humana. Quantos? Não sei, assim como também não sei quantos serão os números de mortos neste primeiro ciclo do COVID-19. Mas, os ensinamentos da nossa mãe natureza eu imagino estar entendendo um pouco mais.
A baixa letalidade do vírus é um sinal de atenção. Já disse em outro lugar também que ele é o vírus da previdência. Os óbitos estão mais entre os idosos, velhinhos sendo politicamente incorreto. Pessoalmente estou neste grupo de risco. Talvez com uma condição melhor que muitos outros idosos e o meu isolamento tem um objetivo. Dar tempo para o sistema de saúde curar os que precisam, porque se eu pegar este vírus eu ocuparei uma UTI, Unidade de Tratamento Intensivo, pelo tempo em que ela poderia atender três indivíduos mais jovens. O vírus já pode estar perto e se passar sem me levar, poderá ser no próximo ciclo.
Assim, este isolamento social fica sendo uma incógnita para nossa sobrevivência como espécie humana. O ensinamento de que somos espécie humana ainda não aconteceu. Procuram-se soluções para não quebrar a economia, a condição de existir. Ora, no final do processo e voltando aos números acima, qual o peso econômico de perder 0,37% da população mundial? Vou insistir, não estou julgando quem vai e quem não vai e nem que os velhinhos como eu devam cometer suicídio em massa se expondo ao vírus. Esta decisão já está tomada pela natureza através do vírus.
Nós como espécie humana ainda não nos descobrimos e buscamos freneticamente a imortalidade individual. Aqui e ali esta imortalidade que não conseguimos é alimentada com ilusões para dar um tempo. Tempo para encontrar uma maneira de construir um prédio com fundamentos mais sólidos ainda.
Outro sinal é de que a natureza não dá conta de toda esta quantidade de indivíduos da nossa espécie. Somos bastante gananciosos e mal acostumados. Quem planeja sua prole para o futuro? Será que acreditamos em coisas malucas como um estado forte que sempre dará conta de tudo? Só olhar ao redor. Comece pelo acompanhamento na gestação, parada por alguns meses para cuidar, depois a creche, depois a escola estatal e por final um concurso público para uma vida tranquila. Perceba bem, não estou julgando sobre o que é preciso para um bom desenvolvimento na gestação, o ficar com a família, uma ótima formação para a vida e depois poder exercer com maestria suas habilidades na sociedade, sendo recompensado com a garantia de poder viver.
Nossa pressão ambiental por recursos é muito grande. O vírus entra em cena para dar um susto. É como os pais chegarem à sala onde estão os namorados e sentarem  no meio para conversar. Conversar sobre o futuro, os possíveis cenários, pensar em como viver sendo livres para escolherem o que quiserem comer. Sim, porque na sequência que fiz anteriormente faltou incluir a cesta básica. Alguém escolhe o que você vai comer, não sendo nem se quer uma decisão de todos.
O vírus é um sinal de que precisamos buscar o equilíbrio. Podemos aprender com tudo isto que está acontecendo ou não. Isto é, se aprender vai doer menos, caso contrário cada vez o susto será maior. Podendo chegar até o dia de proibir o namoro a sós no sofá.
É isto, ideias vagas para puxar uma conversa que espero possa ainda acontecer ao vivo e a cores, sem distanciamento, bem juntinho no sofá da sala. Para pensar num amanhã possível quando não mais se queira a imortalidade individual e sim a perpetuação da espécie humana.

Dia Mundial da Poesia – 21/3/2020
Neste dia em meio a todos os nossos problemas, dificuldades, necessidade de isolamento social para continuarmos existindo, acredito que a poesia é um elo fortíssimo entre todos nós.

O vírus da adaptação. 19/3/2020
Estava lembrando sobre a teoria da Seleção Natural de Charles Darwin. Os organismos mais BEM ADAPTADOS ao meio têm maiores chances de sobrevivência dos que os menos adaptados, tendo um número maior de descendentes. Tudo porque agora a pouco uma situação concreta mostrou como estamos despreparados para seguir protocolos de adaptação.
Estamos nesta data com um total de 230.055 infectados pelo COVID-19, 9358 mortos e 84557 recuperados. O vírus continua sendo transmitido e mesmo chegando aqui bem mais tarde a adaptação não acontece. Os motivos podem ser vários.
Existem aqueles que acreditam numa decisão superior. Deus é que sabe quando cada um vai. Não temos nada a temer se sempre fomos corretos e bons seguidores.
Outros ainda acham que como tiveram poucos problemas no passado com resfriados e gripes estarão mais imunizadas contra este vírus. Bem, não sou especialista para saber se é assim ou não. Mas, sei o que médicos estão pedindo, que os jovens não entrem em contato com idosos, porque podem ser o vetor de transmissão do vírus.
Tem outros que não sabem seguir nada pelo bem de toda a sociedade. Dizem que não é bem assim, que muito foi inventado e os doentes e mortos não são tudo isso. Eu penso que nestes tempos de tantas conexões seria bem difícil controlar toda esta informação sobre a pandemia.
Os números que apresentei acima são do “Coronavirus COVID-19 Global Cases by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University (JHU)”. Se consultar a base da OMS teremos diferença de uns 10%. Perfeitamente aceitável pela diferença de origem e processamento das informações.
Até agora tudo o que sabemos é que naqueles locais onde os protocolos foram seguidos, onde foram feitos testes e mais testes, o vírus teve poucas chances de proliferação. Então não custaria seguir o protocolo da higiene pessoal. Este protocolo de higiene serve tanto para este vírus como para muitas outras. A dengue que ficou negligenciada ao que tudo indica evoluiu rapidamente, mesmo em países desenvolvidos.
Abrindo parêntesis, os novos talvez não lembrem, mas existiu o que se chamou de Bug do Milênio. Ou melhor, ele não aconteceu, porque todos se preparam atualizando todos os sistemas operacionais e programas que não podiam tratar da data do primeiro dia útil do ano de 2000. O problema estava justamente na questão básica de que os programas foram escritos usando o ano com dois dígitos. As manchetes falavam sobre o “bug” que não aconteceu como todos previam. Ora, ele não aconteceu porque a maioria tomou providências e adaptou seus sistemas.
O mesmo pode acontecer com o COVID-19  e todos os outros que virão. Se nós ficarmos atentos e nos adaptarmos, a cada novo vírus nós estaremos melhorando nossa adaptação, tendo mais indivíduos e dando condições para a perpetuação da espécie humana.

Mundo proibido – 2/3/2020
Sonhei outro dia que vivia num lugar onde era proibido tudo o que fosse mono. Era um lugar super diferente e eu não sabia se já estava habituado ou se tinha acabado de chegar. A conversa das pessoas tinha uma força de construção e o estranho era a competição pelo melhor do conjunto. Elas se despediam dizendo foi ótima nossa conversa. As opções para tudo também tinham sempre outras tantas. Aí perguntei se não era problema, porque as vezes você cria algo único, tem um pensamento, uma ideia, um poema por exemplo. Aí a menina respondeu, temos isso também, coisas únicas. A diferença é que as coisas únicas são reconhecidas  como de grande valor e seus criadores enaltecidos, mas elas nunca dão poder a ninguém sobre o outro. Aí tocou uma sirene que se confundiu com meu despertador e fiquei pensando e ainda penso neste mundo proibido que só em sonhos tinha condição de existir. Talvez uma ficção ou um trampolim para saltar e pensar além deste nosso mundo. Pensar, imaginar e sonhar não fazem mal a ninguém e aí podem sair coisas únicas de valor, elas terão muito mais valor se tiverem outras tantas.

Para quem? - 15/2/2020
Outro dia perguntaram por que não sou divulgado e faço sucesso como outros que estão aqui na cidade menos tempo do que eu. Fiquei pensando e mais tarde uma questão complementar se mostrou. Quando escrevo poemas tipo conselho e autoajuda, tenho mais retorno dos leitores. Quando escrevo aquilo que minha inspiração, intuição, ou sei lá me apresenta é uma nulidade. Fica então a dúvida de quem arrisca rabiscar aqui e ali.

Nas letras, palavras e versos,
Quero ser só eu mesmo
Na minha solidão.
De quando em vez
Anseio estar com outros,
Ouvir, sentir, trocar, dialogar.
Mas, logo vem o sofrimento,
A tristeza da presença estática,
De pessoas definidas em sua maioria,
Cristalizadas no tempo,
Petrificadas em seu doce amargo.
Todas querem em sua maioria
Outras iguais a si
Para descobrir logo depois que não dá.
Assim, escrevo por pensar,
Querendo ser meu diálogo
Que poderá um dia encontrar
Outra ou outro sem pressa,
Para viver, sonhar,
Cada um sendo aquilo que é.

Para quem? Para que? Para qual público? Todas estas perguntas deixaram de fazer sentido. Acredito que tudo o que se faz tem algum sentido e muitas vezes o sentido pode não estar no meu tempo de vida. Se também não estiver lá no futuro já não mais importa.
Tinha um tempo que me importava. Ficava divulgando aqui e ali. Claro que ainda divulgo, e é bom estar presente em algum lugar, ter uma função social. A sociedade não precisa mais me retornar nada, eu vou continuar teimando em dar algo melhor para ela.
Aqui entra o instigar, pensar além dos muros e paredes que nos separam. Encontrar e fazer parte sem estar escravizado pela pertença partidarizada. Quero poder passar na rua e encontrar com qualquer pessoa, sem receios, rancores, raiva ou outro. Cada um é singular e quando reconheço isto eu também vou me compreender melhor na solidão que busco.
Enfim, o viver tem ciclos. Ora quero estar só e ora quero estar com outros. Não fico mais triste quando o outro ou a outra não querem estar comigo. Pode ser o momento deles de solidão necessária. E assim sendo acontece uma mágica que não consigo explicar. Aparecem outros e outras que querem estar junto porque estão em seu momento de estar em grupo. Vivo assim e é muito melhor, as surpresas são inesquecíveis.

Silêncio Rádio - 9/2/2020
Desde que completei 60 anos de idade decidi fazer silêncio nas redes sociais e ficar mais quieto num canto. Quando posso dou uma passada de olhos para ver as atividades, postagens, mas sem me ater aos detalhes. Vou mantendo mais o contato pessoal, a troca de mensagens de pessoa para pessoa. Até a lista para distribuir poemas pelo whats deixei parada. Interessante, menos de cinco pessoas perguntaram o motivo e de vez em quando trocamos alguma mensagem. Aqui escrevo mais para manter na memória, porque poucos chegam aqui para ler e não tem um sistema de atualização do site para quem quer.
A ideia de escrever agora aqui é para minha própria reflexão pessoal. Percebi que o contrário também pode acontecer e os outros todos fazerem silêncio rádio, período de silêncio para não ficar perdendo tempo com inutilidades ou aquilo que não vai para frente. Concordo com eles porque estou fazendo isto. Já perdi muito tempo buscando querer estar com as pessoas porque nós humanos somos gregários e tudo só dá certo se tiver mais de um. O cínico poderá dizer que um gênio não precisa de ninguém. Aí diria que mesmo o gênio tem relações, as pessoas que viram no mínimo a diferença entre ele e os outros. Do contrário nada seria diferente. Então segue a vida e entra-se no período dos primeiros 30 dias.
A tentação do primeiro mês é desistir, voltar a postar, torcer para alguém ler e gostar, curtir, enfim, aquela ilusão enorme do sucesso nas redes sociais. Muitos que conheço acreditam que as pessoas serão substituídas em tudo, até nas relações. Mas, vamos e convenhamos como é gostoso um tocar de corpos, uma abraço apertado, um beijo longo e demorado. Enfim, passando este período, o segundo mês já foi mais voltado para aprofundar o silêncio. Porque no convívio no dia a dia é difícil ficar quieto. Sempre se tem a tentação de dar opinião, dizer como deve ser, dar um conselho ou outro.
Novamente, vou aprimorando e melhorando. Pensando muito mais antes de falar e a escala evolutiva tem sido conquistada. Fazendo com que comecem a mudar, elevar para outro patamar as relações, a intuição principalmente. Outras pessoas que se importam, que gostam de algo diferente, sair da mesmice, vão surgindo aqui e ali, criando um novo círculo de relações sociais.
Este novo círculo que parece estar se formando é uma constatação, porque devo deixar de lado qualquer ansiedade de pensar que será diferente. Pode tudo cair no mesmo buraco e não ir para frente por ficarem presos no fundo do poço.
Comparo isso como meu início no mercado de ações. Quando tinha perdas, meses negativos, ficava chateado e pensava mesmo que não iria conseguir. Afinal, perder dinheiro não é nada bom. Continuei mantendo a disciplina, nada de querer recuperar da noite para o dia o valor perdido e assim fui melhorando aos poucos. Principalmente quanto as emoções, tenho o prazer de dizer que no conjunto não perdi nada do capital inicial investido e isto condiz que devo ser humilde, estudar, ler, analisar e principalmente saber que tudo o que sobe corrige. Os ciclos da natureza: nascer, desenvolver e morrer estão presentes em tudo. Isto também está nos novos relacionamentos que vão surgindo. O melhor é emocionalmente não ter expectativas para viver uma possibilidade e oportunidade como deve ser, sem mais nem menos.
Bem, pela data de hoje vou entrar no terceiro mês do período de silêncio. Agora com menos tentação de voltar atrás e muito mais curioso para seguir em frente. Esta dinâmica cíclica deverá ter fim um dia para outra e mais outra. No momento quero estar atento a tudo e a todos. Estou muito mais conectado agora do que antes e não vou saber explicar como. Deixo que vá acontecendo assim como foi na última sexta-feira no Formosa PUB, quando estava ouvindo a Banda Irresolute de Palmas, ótima música. A vida é fluída, é movimento, só o cemitério não sai do lugar, e ainda bem que é assim, poderia nunca ter sido. Aí, o texto acima seria outro, ou melhor, nem seria escrito.


Após receber um santinho virtual de uma amiga - 8/1/2020
Fechei os olhos e fiz um pedido no qual acredito profundamente.
O pedido é para que as pessoas, elas mesmas, escrevam mensagens daquilo que acreditam. Estamos numa época muito visual e minha preocupação é de que as pessoas vão perdendo a expressão própria, diminuem o vocabulário e o pensar passa a ser penoso.
Se nascemos com cérebro é para pensar, nos expressarmos, mesmo com erros e tudo o mais. Entenda que não é nenhum pito, nada pessoal, só estou atendendo ao que sua mensagem sugeriu.
Tenha um dia maravilhoso sabendo que o não bom não perdura e que o que temos de bom também passa. É o ciclo da vida, dia e noite, sol e lua, frio e calor. Beijos querida do coração.



Voltar para o conteúdo